Luedji Luna, Selvagens à Procura de Lei, Seu Jorge, Lenine, Machete Bomb, Undo, Sérgio Britto e Zé Ibarra estão entre os artistas citados nesta lista (Foto: Divulgação/Montagem feita por Lucas Couto)
Como prometido para o dia de hoje (29/12), aqui está a segunda e última parte da minha seleção de ''Melhores Álbuns/EP's Brasileiros de 2025''.
Na primeira parte, eu listei trabalhos de artistas/bandas que possuem iniciais de A a K. Agora, listarei apenas trabalhos de artistas/bandas que possuem iniciais de L a Z.
Novamente, os álbuns/EP's desta lista não foram sequenciados em ordem de preferência alguma. Ao invés de fazer isso, decidi seguir a ordem alfabética dos respectivos artistas/grupos por trás deles:
Ao longo dos últimos 10 anos, poucos veteranos da MPB se mantiveram tão ativos quanto Lenine: após emplacar o aclamadíssimo álbum ''Carbono'' (2015), entregar mais seis músicas inéditas no disco ao vivo ''Lenine em Trânsito'' (2018) e realizar ''feats'' originais com artistas que vão de Anavitória ao Angra, o cantor reafirmou a imortalidade de sua relevância, lançando o álbum ''EITA'', em 2025.
É vero que os serviços de streaming fizeram com que muitas pessoas adquirissem preguiça de ouvir um álbum completo, mas Lenine conseguiu driblar isso, de maneira bastante inteligente: o artista pernambucano gravou um videoclipe para cada uma das 11 faixas de ''EITA'' e, ao invés de lançar esses 11 videoclipes separadamente, ele os agrupou em um único vídeo, na ordem exata que as músicas aparecem no álbum. Além disso, Lenine decidiu não lançar singles promocionais antes da chegada de ''EITA'' - pois, nos tempos de hoje, a presença de singles acaba fazendo com que consumidores ignorem as demais faixas de um álbum.
Algumas das canções de ''EITA'' estão, certamente, entre as melhores músicas que Lenine já compôs. Porém, vale lembrar que ele não criou o repertório totalmente sozinho: este trabalho conta com interferências criativas de Dudu Falcão, Lula Queiroga, João Cavalcanti, Siba, Gabriel Ventura, Arnaldo Antunes e Carlos Posada, além de participações vocais/instrumentais de nomes como Maria Bethânia, Mestrinho, Marcos Suzano e Maria Gadú.
Minhas faixas favoritas:
''Confia em Mim'', ''Eita'', ''Meu Xamêgo'', ''Foto de Família'', ''Malassombro'', 'Aos Domingos'' e ''Motivo''
A cantora baiana Luedji Luna é a única artista solo que conseguiu emplacar DOIS álbuns nesta lista. Isso porque, apenas 18 dias depois de lançar o espetacular ''Um Mar Pra Cada Um'', ela entregou, de surpresa, o igualmente sensacional ''Antes Que a Terra Acabe''. Ambos são pautados na Black Music, mas, enquanto ''Um Mar Pra Cada Um'' é totalmente desprendido de cartilhas pop (chegando até a apresentar elementos jazzísticos em várias de suas faixas), ''Antes Que a Terra Acabe'' segue uma fórmula bem mais simples e radiofônica - tanto que traz participações especiais de nomes como Seu Jorge e MC Luanna.
Segundo Luedji, estes dois álbuns ''são a antítese um do outro'', mas ''cada um deles reflete uma faceta diferente dela''. Ao escutarmos os dois trabalhos seguidamente, percebemos que eles acabam funcionando como opostos que se equilibram e demonstram o quão versátil é a artista por trás deles.
Minhas faixas favoritas de ''Um Mar Pra Cada Um'':
''Gênesis'', ''Karma'', '''Kyoto'', 'Rota'', ''Dentro Ali'', ''Harém'', ''Gamboa'', ''Salty'' e ''Joia''
Minhas faixas favoritas de ''Antes que a Terra Acabe'':
''Apocalipse'', ''Pavão'', ''Imã'', ''Mara'', ''IôIô'', ''Às Cegas'' e ''Bonita''
Desde 2013, a banda curitibana Machete Bomb mistura Rock, Rap e Samba, trazendo como principal ''marca registrada'' o cavaquinho cheio de pedais de distorção que é tocado por Otávio “Madu” (líder e único membro original remanescente do grupo). Essa proposta-base foi seguida novamente, no recente álbum Rastejando em Pé..., mas a presença dos rappers Alienação Afrofuturista e Thestrow como novos vocalistas fixos acabou contribuindo para que este se tornasse o primeiro trabalho do Machete onde o gênero-protagonista é o Rap.
Porém, mesmo com os elementos de Rock ou Samba presentes em menor escala, a sonoridade de Rastejando em Pé... não causa estranheza alguma aos ouvintes que sabem que o Machete Bomb nunca teve medo de se renovar e de fazer experimentações diversas. Este é mais um excelente trabalho da ''gangue do cavaco profano''!
Minhas faixas favoritas:
''Burako'', ''Na Contenção da Extinção Seleta'', ''Stigah'', ''Corpo Acuado/Mente Livre'', ''O Tambor
(Girando o 6)'' e ''Procedê''
Para os que não sabem, em 2019, as brigas constantes que ocorriam entre o guitarrista/compositor Donida e o vocalista Jimmy London acabaram dividindo o Matanza em dois novos grupos: enquanto Donida montou o Matanza Inc. com um outro vocalista, Jimmy London montou o Matanza Ritual, com os virtuosíssimos Felipe Andreoli (baixista do Angra), Antônio Araújo (ex-guitarrista do Korzus) e Amílcar Christopharo (baterista do Torture Squad).
Entre 2022 e 2024, o Matanza Ritual lançou alguns singles, mas só em 2025 o grupo entregou o seu álbum de estreia A Vingança É Meu Motor. É vero que, neste trabalho, há certas faixas onde a qualidade das letras de Donida fez falta para Jimmy, mas, por outro lado, os instrumentais sensacionais de Felipe, Antônio e Amílcar trouxeram um nível de peso e complexidade que nunca havia sido atingido nos álbuns do Matanza original.
Minhas faixas favoritas:
''Paciente Secreto'', ''Lei do Mínimo Esforço'', ''Assim Vamos Todos Morrer'', ''Nascido num Dia de Azar'', ''A Noite Eterna'' e ''Ode ao Ódio''.
Confesso que pensei duas vezes antes de incluir o álbum ''Maurício Ricardo e a Máquina'' nesta lista - afinal, todos os instrumentos e vozes presentes neste trabalho foram gravados por Inteligência Artificial, e não por seres humanos. Porém, mesmo correndo o risco de estar incentivando a arte feita por IA, resolvi listar o álbum aqui, pois todas as 12 faixas dele contam com ótimas letras feitas por Maurício Ricardo, sem ajuda virtual (ou seja, há uma certa participação humana no disco).
Todas as letras do repertório falam sobre o impacto negativo que a tecnologia causou no mundo moderno: ao longo das 12 canções, Maurício traz à tona temas como isolamento social causado por redes sociais, desespero por fama digital, sites de bets e a influência da internet no cenário político mundial - sempre com a inteligência e a criatividade que ele demonstra ter, desde a época do seu extinto site Charges.com.br (2000-2022). O fato de Maurício Ricardo e a Máquina ser um álbum abertamente gravado por IA faz parte da proposta conceitual escolhida para este trabalho específico - todas as canções são muito boas e parecem ter sido gravadas por pessoas reais... o que acaba cumprindo o objetivo principal deste álbum: gerar bastante preocupação sobre o que será dos seres humanos, nos anos que estão por vir.
'A Morte da Utopia'', ''Os Novos Donos do Mundo'', ''Namorada Virtual'', ''Não Olhem Pra Cima'', ''Verdade Perfeita'', ''15 Segundos de Fama'', ''O Que Houve com Ele'' e ''A Culpa É Toda Sua''
Menores Atos- Fim do Mundo
Menores Atos- Fim do Mundo
No recente álbum ''Fim do Mundo'', a banda carioca Menores Atos entregou 12 músicas inéditas pautadas em um único tema: as dores causadas pelo término de um relacionamento amoroso importante. Contudo, o grupo liderado por Cyro Sampaio distribuiu essas 12 músicas em três atos conceituais intitulados ''VAZIO'', ''EM DEMOLIÇÃO'' e ''DEPOIS DO SOL E DA CHUVA'' - cada um deles representando um estágio de intensidade do luto.
As quatro canções do primeiro ato já fazem este álbum começar pesado (tanto liricamente quanto musicalmente), mas o segundo ato é, sem dúvidas, o que traz os maiores petardos sonoros de ''Fim do Mundo''. O ato final, porém, contrasta dos anteriores, ao apresentar canções mais leves com letras que demonstram uma certa conformidade do eu lírico em relação ao término que ele viveu - embora as letras da terceira metade continuem tristes, elas refletem o sentimento de uma pessoa que passou por um ''fim de mundo particular'' e está começando a ter esperança para se reconstruir.
Este é um excelente álbum que eu, certamente, indico para todos os fãs de hardcore melódico. Porém, se você está passando por um término amoroso difícil, sugiro que evite gatilhos: espere a fossa passar e, só depois disso, ouça ''Fim do Mundo''...
Minhas faixas favoritas: ''Pronto Pra Sumir'', ''Sorte'', ''Tudo no Mesmo Lugar'', ''Terremoto'', ''Preso No Nosso Passado'' e ''Gravidade'' .
Para celebrar os seus recém-completados 30 anos de carreira, a banda capixaba Mukeka Di Rato lançou mais um álbum pesadíssimo que traz letras certeiras e atuais: ao longo das 13 faixas que compõem Generais de Fralda, ouvimos críticas ácidas ao genocídio do povo palestino, ao trabalho escravo contemporâneo, ao descaso sofrido pela população pobre, ao excesso de medicamentos, ao feminicídio e, claro, aos militares brasileiros que sentem saudades da Ditadura.
Generais de Fralda é uma obra muito cirúrgica que, certamente, reafirma o Mukeka Di Rato como um dos nomes mais lendários do Hardcore nacional. Porém, vale lembrar que este trabalho também inclui pitadas de Rap (na faixa ''Globo da Morte'', que traz FBC como convidado especial) e Reggae (na irônica faixa de encerramento ''Desgraça Capixaba'').
Assim como a maioria dos álbuns de HC, Generais de Fralda é um registro que pode ser escutado do começo ao fim em pouquíssimo tempo: a duração total dele é de apenas 20 minutos.
Minhas faixas favoritas:
''Generais de Fralda'', ''Predadores Armados'', ''Se Droga Brasil'', ''Criança Morta'', ''Engenho de Sangue'', ''Filho da Rua'', ''Fascism and Big Business'', ''Somente Moedas Acendem Velas'', ''Globo da Morte'' e ''Desgraça Capixaba'' .
Entre 2019 e 2024, a rapper/cantora Negra Li lançou apenas alguns singles espaçados, mas, em 2025, a ex-integrante do RZO finalmente lançou o seu 5º álbum solo: ''O Silêncio Que Grita'' navega por várias das facetas musicais de Negra Li, incluindo desde R&B's românticos até Reggaes e Raps super-politizados.
Mais uma vez, a artista paulistana se mostra uma letrista afiada, especialmente quando aborda pautas sociais complexas ligadas a feminismo ou negritude: em ''O Silêncio Que Grita'', Negra Li canta sobre extermínio do povo negro, ancestralidade, violência sexual, aborto e feminicídio, sempre deixando as suas posições bem claras (e sem se importar com o fato de que elas certamente irão desagradar uma parcela atrasada da população brasileira).
Minhas faixas favoritas:
''A Luta Não Acabou'', ''Olha o Menino 2.0'', ''Black Money'', ''Fake'', ''Uma Menina'', ''Filhos'' e ''Abençoada''
Ney Matogrosso e Hecto- Canções para um Novo Mundo
Depois de inaugurar a sua discografia com 6 singles soltos, a banda de rock Hecto lançou o seu álbum de estreia Canções Para um Novo Mundo, em janeiro de 2025. O principal colaborador deste trabalho é o lendário Ney Matogrosso (que divide vocais com Guilherme Gê, em todas as 9 faixas), mas este álbum também traz parcerias com artistas do naipe de Frejat, Ana Cañas, Sérgio Britto, Will Calhoun e Paulo Sérgio Valle.
Minhas faixas favoritas:
''Monólogo'', ''Teu Sangue'', ''O Amor Vem Antes de Tudo'', ''Nosso Grito'' e ''Anonimato''
Os Garotin- Os Garotin Session 2
Desde 2023, os membros do trio Os Garotin vêm se destacando como revelações muito bem-vindas para o Pop, o Soul, o R&B e a MPB. Os três compõem bastante juntos, mas, desde o começo, cada um deles também possui espaço para lançar composições solo dentro do grupo - e, por mais que Cupertino tenha um estilo mais puxado pra MPB que os seus colegas Léo Guima e Anchietx (ambos guiados pela Black Music), essa ''salada'' funciona bem.
No recente EP Os Garotin Session 2 (2025), Léo Guima, Anchietx e Cupertino entregaram 5 músicas inéditas - as duas faixas de abertura são resultado da união entre os três cantores, mas, depois disso, cada um deles ganha uma música para brilhar sozinho. O resultado desse crossover é bem interessante, pois mostra que Os Garotin conseguem trabalhar no modus operandi ''um por todos e todos por um'': a carreira solo de cada membro acontece dentro do grupo e uma coisa favorece a outra, coexistindo em harmonia - o que é extremamente raro dentro do universo repleto de egos inflados que é o meio musical.
Minhas faixas favoritas:
''Calor e Arrepio'' e ''Força Bruta''.
Rael- Onda
Em ''Onda'', Rael segue na linha leve e bastante abrangente que ele adotou para a própria carreira solo: ao longo das 14 faixas deste novo trabalho, o ex-integrante do grupo Pentágono explora elementos sonoros de Rap, Soul Music, Funk, R&B, Pagode Baiano, Reggae e Forró, recebendo convidados que vão de Mano Brown e Rincôn Sapiência até Ivete Sangalo e Ludmilla.
Minhas faixas favoritas:
''Onda'', ''Na Pista Sem Lei'', ''Outro Nível'', ''Meu Iô Iô'', ''Na Minha Cabeça'', ''Vibe'', ''Me Deparei com a Lua'' e ''Até o Sol Raiar''.
Desde 2021, a cantora baiana Rachel Reis é amplamente reconhecida como ''um dos melhores nomes jovens da MPB'', mas esse status se reforçou muito, depois que ela lançou o álbum ''Divina Casca'', em abril de 2025. Neste novo trabalho, Rachel entregou 13 músicas inéditas, uma versão mais radiofônica do seu hit ''Caju'' (lançado originalmente em 2023) e uma releitura de ''Sexy Yemanjá'' (clássico de Pepeu Gomes).
Misturar gêneros musicais diversos é algo que a artista de 28 anos sempre fez em todos os seus trabalhos, mas, em ''Divina Casca'', isso é potencializado, graças às participações especiais de Baianasystem, Don L, Rincon Sapiência, Nêssa e Psirico, em faixas pontuais. Este é um registro que navega por MPB, Arrocha, Eletropop, Samba-Rock, Pagode Baiano, Reggae, Rap e Jazz, trazendo algumas das melhores composições que Rachel já lançou, até o momento.
Minhas faixas favoritas: ''Casca'', ''Alvoroço'', ''Noite Adentro'', ''Jorge Ben'', '''O Maior Evento da Sua Vida'', ''Tabuleiro'', ''Ensolarada'' e ''Aquele Beijo''
O álbum ''As Palavras, Vol.1 e 2'' (2023) foi uma megaprodução onde Rubel explorou várias de suas facetas musicais e gravou ao lado de diversos outros cantores. Porém, em maio de 2025, o artista carioca acabou lançando um trabalho de inéditas bem mais intimista: o recente álbum ''Beleza. Mas Agora a gente faz o que com isso?'' também é excelente, mas se assemelha muito mais ao disco de estreia de Rubel (''Pearl'', de 2015), pois não conta com nenhum ''feat'' e apresenta somente canções suaves onde a voz e o violão são os instrumentos principais.
O repertório deste novo trabalho é composto por 7 músicas autorais inéditas, uma versão em português da canção mexicana ''A La Ventana, Carolina'' (original de David Aguilar) e uma releitura de ''Reckoner'', do Radiohead, em formato voz/violão - ou seja, o cantor de 34 anos conseguiu demonstrar versatilidade, mesmo em um álbum que segue uma proposta sonora linear.
Minhas faixas favoritas:
''Feiticeiro Gozador'', ''A Janela, Carolina'', ''Ouro'', ''Azul, Bebê'' e ''Noite de Réveillon''
Selvagens à Procura de Lei- Y
Em 2024, as várias discórdias internas que aconteciam no Selvagens à Procura de Lei acabaram resultando na saída de Rafa Martins (covocalista/guitarrista), Caio Evangelista (covocalista/baixista) e Nicholas Magalhães (covocalista/baterista) - os três montaram uma banda nova juntos (a ''Cor dos Olhos'') e deixaram o vocalista/guitarrista Gabriel Aragão completamente sozinho no Selvagens. Porém, Gabriel conseguiu reformular tal projeto, ao contratar Plínio Câmara (guitarrista), Jonas Rio (baixista) e Matheus Brasil (baterista) como substitutos de Rafa, Caio e Nicholas.
A nova formação do Selvagens foi oficialmente inaugurada em maio de 2025, com o excelente álbum de inéditas ''Y''. Todas as 12 faixas deste trabalho possuem letras que estão direta ou indiretamente relacionadas à separação da banda (que, claramente, impactou muito Gabriel), mas, diferente do que era esperado, não há tantas alfinetadas a Rafa, Caio e Nicholas - ao invés de dar um grande espaço a isso, Gabriel preferiu escrever sobre o medo que a necessidade de recomeçar causou a ele e, também, sobre os maiores apoiadores que ele teve durante esse processo de mudança: os fãs do Selvagens à Procura de Lei (que são homenageados na faixa ''Mucambada'').
Em músicas como ''Daqui Pra Frente'' e ''Nunca tem Fim'', Gabriel demonstra ter plena consciência de que a ausência dos ex-colegas faz sim falta. Ou seja, ''Y'' não veio para negar o impacto da mudança, mas sim para funcionar como um ótimo manifesto de recomeço que convida o público a abraçar a nova versão da banda - e é difícil alguém não aceitar esse convite... afinal, trata-se de um dos melhores álbuns do Selvagens.
Minhas faixas favoritas:
''Daqui pra Frente'', ''Pra Recomeçar'', ''Amigos por Interesse!'', ''Melhor Assim'', ''Um Lugar Que Te Mereça'', ''Quando Eu Me Encontrar'', ''Pessoas Invisíveis'' e ''Gatilhos''
Sérgio Britto- Mango Dragon Fruit
Mesmo permanecendo nos Titãs até os dias de hoje, Sérgio Britto mantém, paralelamente, uma carreira solo onde ele aproveita para lançar várias composições que não combinariam com a identidade roqueira da banda. ''Mango Dragon Fruit'' (2025) é o quarto álbum solo consecutivo onde Britto demonstrou que se sai muito bem, não apenas quando está cantando rock com os Titãs, mas também quando está fazendo Bossa Nova, MPB, Samba e Jazz.
Minhas faixas favoritas:
''Viver de Ilusão'', ''Problemática com Estilo'', ''Bastava Querer'', ''Eu sou do Tempo'', ''Para a Vida Inteira'', ''O Barquinho'' e ''Bons Tempos Chatos''.
O novo álbum de Seu Jorge é dividido em três atos: o primeiro (faixa 1-faixa 5) e o terceiro ato (faixa 10-faixa 11) trazem o Samba-Soul característico do cantor carioca, enquanto o segundo ato (faixa 6-faixa 9) inaugura uma aproximação de Seu Jorge com a Axé Music. Confesso que não gostei de nenhuma das canções do segundo ato, mas, mesmo assim, decidi incluir ''Baile a La Baiana'' na minha lista de ''Melhores Álbuns Brasileiros de 2025'', pois o primeiro e o terceiro ato trouxeram músicas muito boas. Porém, vale lembrar que nem todo o repertório do disco é inédito: 6 das 11 faixas são composições que já haviam sido lançadas, ou por Peu Meurray ou por Magary Lord - dois artistas baianos que, até então, eram pouco conhecidos, mas que estão presentes em ''Baile a La Baiana'', dividindo vocais com Seu Jorge, nas respectivas canções do álbum que eles compuseram.
Minhas faixas favoritas:
''Sete Prazeres'', ''Sim Mais'', ''Batuque'', ''Gente Boa se Atrai'' e ''Mudou Tudo''.
Em 2025, Sophia Chablau (vocalista/guitarrista do Sophia Chablau & Uma Enorme Perda de Tempo e do Besouro Mulher) e Felipe Vaqueiro (vocalista/guitarrista do Tangolo Mangos) uniram forças, pela primeira vez. Os frutos iniciais da parceria entre os dois foram os singles ''Nova Era'' e ''Ohayo Saravá'', mas, poucos meses depois, os dois lançaram o álbum ''Handycam'' - que trouxe 11 músicas compostas e gravadas por eles.
Tanto Sophia quanto Felipe são excelentes compositores - então, já era de se esperar que um álbum conjunto dos dois teria várias canções escritas com a ''caneta afiada'': o repertório de ''Handycam'' inclui, desde músicas que não se levam muito a sério, até músicas que abordam temáticas seríssimas como a vigente Guerra entre Israel e Palestina.
Vale lembrar que este trabalho foi gravado com a produção musical de Gui Toledo, a bateria de Biel Basile (baterista d'O Terno) e o baixo de Marcelo Cabral (baixista que já tocou com Metá Matá e Elza Soares, entre outros grandes nomes).
Minhas faixas favoritas: ''Lungs Full of Air'', ''Campo Minado'', ''Cinema Total'', ''Já Não Me Sinto Tão Só (Para Júlia Zen)'', ''Tempestade de Verão'', ''Buracos'' e ''Canção de Retorno''
Entre 2004 e 2024, a rapper paulistana Stefanie integrou os coletivos Simples, Pau-de-Dá-em-Doido e Rimas & Melodias, lançou alguns singles solo e participou de discos de artistas gigantes como Rashid, Kamau, MV Bill, Emicida, Jonathan Ferr e Drik Barbosa, mas, por incrível que pareça, o primeiro álbum solo dela só viu a luz do dia em abril de 2025.
Neste trabalho de estreia intitulado ''BUNMI'', Stefanie versa sobre racismo, pobreza, assédio e superação pessoal, com a sagacidade de uma artista veterana e a bagagem que só uma mulher negra atuando em um meio predominantemente masculino possui.
Durante uma entrevista recente concedida a jornalistas da Rolling Stone Brasil, Stefanie revelou que lançar um álbum solo era o maior sonho profissional de sua vida. Esse desejo antigo demorou décadas para sair do papel, mas se realizou depois que o projeto '''BUNMI'' foi aprovado no edital da Natura Músical - e é claro que vários amigos que acompanharam de perto a trajetória da artista fizeram questão de participar deste álbum: as colaborações de nomes de peso como Emicida, Rashid, Daniel Ganjaman, Kamau, Rincon Sapiência, Mahmundi, Ogi e Luedji Luna tornaram ''BUNMI'' um trabalho ainda mais especial.
Este lançamento é um grande presente, não somente para a própria Stefanie, mas também para todos os os fãs de Rap nacional. É sempre muito bom ver uma artista subestimada receber, enfim, o reconhecimento merecido.
Minhas faixas favoritas:''Fugir Não Adianta'', ''Não Pirar'', ''Desconforto'', ''Mundo Dual'', ''Nada Pessoal'', ''Outra Realidade'', ''MAAT'' e ''Plenitude''
Apesar do PAVOROSO single promocional ''Piseiro Black Sabbath'' ter me deixado com um certo receio de como seriam as demais faixas do novo álbum da Supercombo, achei o saldo final de ''Caranguejo (Parte 1)'' bastante positivo, pois quase todas as outras músicas da tracklist são muito boas.
De acordo com o vocalista Leonardo Ramos (que, desde 2013, lidera a banda capixaba sozinho), este álbum se chama ''Caranguejo'' pois possui uma sonoridade que ''anda de um lado para o outro'', tal como o crustáceo. Aqui, o rock alternativo da Supercombo se mistura com influências de piseiro, metal, pop ou baião, acompanhado de letras que, ora são irreverentes, ora são emocionantes.
Minhas faixas favoritas: ''A Transmissão'', ''Alento'', ''Testa'', ''Nossas Pitangas'' e ''O Alfaiate''
Em seu quinto álbum de inéditas ''Nenhuma Estrela'', a banda paulistana Terno Rei conseguiu soar um pouco mais pop, sem deixar de lado a sua essência indie melancólica e sofisticada. Na faixa ''Relógio'', o grupo chegou a colaborar com o lendário Lô Borges - membro do Clube da Esquina que, infelizmente, acabou falecendo neste ano.
Ao avaliar a qualidade de cada álbum/EP já lançado pelo Terno Rei, penso que ''Nenhuma Estrela'' só perde do aparentemente insuperável ''Violeta'' (2019).
Minhas faixas favoritas: ''Peito'', ''Nada Igual'', ''Nenhuma Estrela'', ''Próxima Parada'', ''Relógio'', ''32'' e ''Viver de Amor''
A banda Undo existe há pouco mais de um ano, mas é formada por cinco roqueiros bastante experientes: André Frateschi (vocalista do projeto Legião Urbana XXX Anos), Rafael Mimi (guitarrista que tocou com o NX Zero no álbum e na turnê ''Norte''), Johnny Monster (guitarrista que possui uma carreira solo autoral), Rafael Garga (baterista do Garga's Groove Gang) e Dudinha Lima (baixista e produtor requisitadíssimo). Em 2025, este supergrupo entregou o seu autointitulado disco de estreia - que trouxe 10 canções autorais voltadas ao post-punk.
Na minha modesta opinião, a Undo é a melhor revelação de 2025, no meio do rock nacional - e o trabalho de estreia deles é, certamente, o melhor álbum brasileiro de rock que foi lançado neste ano.
Vale lembrar que este registro inaugural conta com participações especiais de veteranos como Leoni (em ''Aprender a Perder'') e Dado Villa Lobos (em ''Kill Billy'').
Minhas faixas favoritas:
''Músculo Novo do Medo'', ''Porcos Não Olham pro Céu'', ''Volta Aquela Cena'', ''Melodrama'', ''Aprender a Perder'', ''Coração Selvagem'' e ''Prazer em Recomeçar''.
Vanguart- Estação Liberdade
Acompanho o Vanguart desde a minha adolescência e sempre gostei muito de todas as fases do projeto. Em 2025, fiquei muito satisfeito ao ouvir o novo álbum Estação Liberdade - onde Hélio Flanders e Reginaldo Lincoln mantiveram a essência alternativa da banda, mesmo trazendo arranjos um pouco mais básicos/pop que os dos álbuns ''Beijo Estranho'' (2017), ''Intervenção Lunar'' (2021) e ''Oceano Rubi'' (2022).
Trata-se de um trabalho que remete bastante aos discos ''Boa Parte de Mim Vai embora'' (2011) e ''Muito Mais que o Amor'' (2013), ao mesmo tempo que possui brilho próprio, sem soar autorreferente.
Em ''Estação Liberdade'', o gênero musical que predomina é o folk, mas como o Vanguart sempre foi aberto a misturas, também percebemos pitadas de Rock, na faixa ''Canção do Estetoscópio'', e de Country Music, na faixa ''Obrigado (Só Penso em Você)''.
Minhas faixas favoritas:
''Estação Liberdade'', ''Luna Madre de La Selva'', ''O Mais Sincero'', ''Noites de Domingo'', ''Rua do Passado'', ''Guaxinim'' e ''Canção do Estetoscópio''.
Vivendo do Ócio- Hasta La Bahia
Em seu quinto álbum de estúdio Hasta La Bahia, a banda Vivendo do Ócio incorporou, de maneira mais evidente que nunca, elementos de Soul, Funk e Disco Music ao seu Rock alternativo característico. Trata-se de um trabalho um pouco mais pop que os álbuns anteriores do grupo, mas as experimentações presentes nele não irão gerar estranheza nos fãs: elas funcionam bem, pois a essência roqueira da Vivendo do Ócio continua lá.
Vale lembrar que ''Hasta La Bahia'' contém participações especiais de Paulo Miklos (na faixa ''Baila Comigo''), Jadsa (na faixa ''Não Tem Nenhum Segredo''), Martin Mendonça (na faixa ''O Lobo da Estepe'') e dos músicos da Orquestra Sinfônica da Bahia (na faixa ''Vai Voar''). Além disso, este é o primeiro álbum que a Vivendo do Ócio lança desde que Gabriel Burgos assumiu o posto de novo baterista da banda.
Minhas faixas favoritas:
''Hasta La Bahia'', ''Não Tem Nenhum Segredo'', ''Onda do Nepal'', ''Se Me Deixar Eu vou Lá'', ''O Lobo da Estepe'' e ''Vai Voar''
Durante a turnê ''Ofertório'' (2018-2019), Caetano Veloso dividiu palco com os seus filhos Tom, Moreno e Zeca, dando, inclusive, espaço para eles cantarem e mostrarem algumas canções autorais deles. Foi nessa turnê que o Brasil inteiro descobriu o talento de Zeca Veloso - os falsetes angelicais do filho do meio chamaram tanto a atenção do público que a sua música autoral ''Todo Homem'' (apresentada durante os shows da excursão) se tornou nacionalmente conhecida. Entre 2018 e 2024, Zeca lançou mais um ou outro single autoral, mas o álbum de estreia dele só veio a ser lançado em 2025.
O repertório de ''Boas Novas'' é composto por 9 canções inéditas e pela já conhecida ''O Sopro do Fole'' (composição de Zeca que integrou a trilha da novela ''Pantanal'' e chegou a ser gravada por Maria Bethânia). A sonoridade deste álbum segue uma linha de MPB similar à que consagrou Caetano, mas, vocalmente, Zeca é MUITO diferente do pai - o que fez com que o jovem cantor conseguisse construir facilmente a sua própria imagem. Aliás, o brilho próprio de Zeca é tão grande que o artista de 33 anos sabe que nem precisa se distanciar de Caetano para se destacar - tanto que ele convidou o pai e os dois irmãos para participar da espetacular faixa de abertura ''Salvador''.
Minhas faixas favoritas:
''Salvador'', ''Boas Novas'', ''Desenho de Animação'', ''Carolina'', ''Máquina do Rio'', ''Tua Voz'' e ''O Sopro do Fole''
Zé Ibarra- Afim
Júlia Mestre não foi a única ex-integrante do Bala Desejo que entregou um excelente trabalho musical em 2025: este também foi o ano em que o cantor Zé Ibarra lançou ''Afim'', seu segundo álbum solo.
Diferente do minimalista ''Marquês, 256'' (onde Ibarra utilizou somente voz e violão, da primeira à última faixa), ''Afim'' foi gravado em estúdio, com a presença de uma banda de apoio numerosa. Porém, a produção e os arranjos das músicas são assinados pelo próprio dono do disco.
Aqui, Ibarra entrega as autorais ''Infinito em Nós'', ''Essa Confusão'' (parceria dele com Dora Morelenbaum) e ''Transe'', mas também mostra o seu talento como intérprete, nas faixas ''Segredo'' (composição já conhecida de Sophia Chablau), ''Retrato de Maria Lúcia'' (composição já conhecida de Ítallo França), ''Da Menor Importância'' (composição já conhecida de Maria Beraldo), ''Morena'' (música inédita cedida por Tom Veloso) e ''Hexagrama 28'' (música inédita cedida por Sophia Chablau).
Este trabalho reafirma Zé Ibarra e todos os demais nomes que eu citei nos três últimos parágrafos como alguns dos melhores representantes da nova geração da música brasileira.
Minhas faixas favoritas:
''Infinito em Nós'', ''Segredo'', ''Transe'', ''Retrato'', ''Essa Confusão'' e ''Hexagrama 28''
** Assim, termino de listar os meus Álbuns/EP's Brasileiros favoritos de 2025. Espero que esta lista dividida em duas partes seja um guia significativo para cada um de vocês, leitores e leitoras. Desejo um feliz 2026, com ainda mais música para todos nós!**
