BK, Baianasystem, João Gomes, Jota Pê, Mestrinho, Dazaranha, Emicida, Anna Zechini, Arnaldo Antunes e Baco Exu do Blues são alguns dos artistas citados nesta lista (Fotos: Divulgação; Montagem feita por Lucas Couto)
Para mim, as coisas mais legais que os finais de ano trazem são as listas retrospectivas sobre cultura: sempre me divirto muito vendo listas compilando as melhores obras de arte que cada ano trouxe e, como eu sempre gostei disso, decidi publicar, ao menos, uma lista retrospectiva, neste final de ano, para que os leitores do Lages Diário saibam quais foram os MELHORES ÁLBUNS ou EP's BRASILEIROS DE 2025, na minha opinião.
Selecionei um total de 50 Álbuns/EP's e fiz uma descrição breve sobre cada um deles. Porém, para não tornar a lista cansativa, decidi distribuir ela em duas matérias (listarei 25 álbuns nos próximos parágrafos e os outros 25 estarão em uma outra matéria, que será publicada em breve).
Fiz essa lista com o objetivo de desconstruir o velho papo furado de que ''não existe mais música boa sendo feita no Brasil''. Espero que, lendo essa matéria, vocês acabem conhecendo alguns artistas novos e decidam pesquisar mais sobre os trabalhos musicais deles.
Os álbuns em questão não estão sequenciados em ordem de preferência. Ao invés disso, decidi seguir a ordem alfabética dos artistas/grupos por trás deles:
Abraskadabra- Pack Your Bags
O grupo Abraskadabra é natural de Curitiba, mas poderia se passar facilmente por uma banda noventista da Califórnia ou da Flórida - afinal, desde 2003, o sexteto faz músicas pautadas no Pop Punk/Ska Punk de nomes como Rancid, No Doubt, Reel Big Fish, Less Than Jake e The Mighty Mighty Bosstones. Durante as gravações deste recente 4° álbum de inéditas, Pack Your Bags, os integrantes do Abraskadabra chegaram a viajar até Gainesville, só para contar com a produção musical de Roger Manganelli (covocalista/baixista do Less Than Jake)... e isso acabou resultando em um trabalho que nenhum fã de Punk Rock melódico é capaz de botar defeito.
Minhas faixas favoritas:
''It Was a Good Night'', ''No Strings Attached'', ''Swings and Roundabouts'', ''Merlin'', ''The Last Song I'll Ever (Consciously) Write About You'' e ''Masquerade''
Alberto Continentino- Cabeça a Mil e o Corpo Lento
O baixista Alberto Continentino ficou famoso por acompanhar gigantes como Milton Nascimento, Marisa Monte, Caetano Veloso, Ana Frango Elétrico e Ed Motta, em grandes álbuns e/ou turnês. Porém, além de ser um dos instrumentistas mais requisitados do Brasil, Alberto também é cantor, produtor e dono de uma carreira solo autoral. Em 2025, ele lançou o seu 3° álbum próprio, ''Cabeça a Mil e o Corpo Lento'', que navega por Soul e Jazz experimental, trazendo contribuições de diversos artistas convidados — entre os quais se destacam as cantoras Nina Miranda, Ana Frango Elétrico, Silvia Machete, Gabriela Riley e Nina Becker, que, não apenas forneceram vocais para determinadas faixas, como também criaram letras para melodias, harmonias e arranjos geniais de Alberto.
Minhas faixas favoritas:
''O Ovo do Sol'', ''Manjar de Luz'', ''Go Get Your Fix'', ''Uma Verdade Bem Contada'', ''Vieux Souvenirs'' e ''Madrugada Silente''
Anna Zechini- A Heroína dos Dois Mundos
No EP conceitual ''A Heroína dos Dois Mundos'', a cantora lageana Anna Zechini entrega 5 canções com letras inspiradas na vida da revolucionária Anita Garibaldi (1821-1849). Neste trabalho cantado em português e espanhol, Anna se coloca no lugar de Anita, ao imaginar o que a heroína da Revolução Farroupilha cantaria a respeito de sua própria infância, de suas batalhas e de seu companheiro em vida, Giuseppe Garibaldi. Além disso, vale lembrar que este EP também conta com contribuições importantes de Vitor Castro, Ricardo Bergha e alguns outros talentos lageanos.
Minhas faixas favoritas:
''Caminhos'', ''Tu Devi Essere Mia'' e ''A Heroína dos Dois Mundos''
Confesso que, até um mês atrás, eu nunca tinha ouvido falar da banda paulistana A Olívia, mas, na época que eu estava pesquisando lançamentos que poderiam entrar nesta matéria, acabei descobrindo o álbum ''Obrigado por Perguntar'' e achei ele SENSACIONAL! As canções deste trabalho são indie rocks divertidos onde o grupo consegue encontrar o equilíbrio perfeito entre entregar letras poéticas e não se levar muito a sério.
Entre os artistas/grupos que eu desconhecia antes de começar a escrever esta matéria, o A Olívia foi, certamente, o que eu mais gostei de conhecer - tanto que, logo após terminar de ouvir este álbum, fui ouvir os outros trabalhos deles (a banda vêm lançando músicas autorais desde 2017).
Minhas faixas favoritas:
''Entretenimento'', ''Ideia Maluca'', ''Incêndio em Mim'', ''Insustentável'', ''Ensaio Aberto'', ''Hasta Luego'', ''Histórias que Não Escrevi'', ''Alma'' e ''Nem Debaixo de Tiro''
Armandinho- Se o Tempo Passa
O novo álbum de Armandinho é, acima de tudo, um compilado dos vários singles excelentes que o regueiro gaúcho lançou entre 2015 e 2024. Porém, além de 12 canções que já são conhecidas pelo público há algum tempo, “Se o Tempo Passa” também trouxe 6 músicas inéditas. Ouvir este trabalho do começo ao fim proporciona a comprovação de que os últimos 10 anos foram muito produtivos para Armandinho - felizmente, o cantor continua com a sua capacidade de criar ótimas músicas.
Minhas faixas favoritas:
''Se o Tempo Passa'', ''Amor Vem Cá'', ''Minha Mina'', ''Eu sou do Mar'', ''Vou Pro Mar Iemanjá'', ''Mas eu Gosto Dela'' e ''Sentar, Fumar e Tocar''.
Em 2025, Arnaldo Antunes quebrou um jejum de 5 anos sem músicas inéditas, navegando por Rock Experimental, Indie Pop e MPB, no excelente álbum ''Novo Mundo''. Este trabalho conta com a produção musical de Pupillo (também baterista de todas as faixas) e com participações especiais de David Byrne (ex-vocalista do Talking Heads), Vandal, Ana Frango Elétrico, Vitor Araújo e Marisa Monte. É claro que este álbum tinha que estar na minha lista!
Minhas faixas favoritas:
''Novo Mundo'', ''Body Corpo'', ''Pra Não Falar Mal'', ''Acordarei'' e ''Sou Só''
Baco Exu do Blues- HASOS
''Garçom da Ausência'', ''Pior que o Mal'', ''Pequeno Príncipe'', ''Que Eu Sofra'', ''Assassinos de Saudade'', ''Sertão Sem Flor'' e ''Um Pouco''
Bad Luv- Nós
Bad Luv- Nós
Formada por músicos famosos como Caio Weber (vocalista da Cefa), Gee Rocha (guitarrista do NX Zero) e Vitor Peracetta (baterista do Matuê), a Bad Luv mistura emocore com elementos pop modernos e flerta, até mesmo, com o nu-metalcore, em certos momentos. Depois de lançar alguns singles isolados entre 2021 e 2024, a banda paulistana lançou o seu álbum de estreia ''Nós'', em agosto deste ano, para oficializar de vez o seu compromisso de fortalecer a cena emo brasileira.
Minhas faixas favoritas:
''Cicatrizes'', ''Na Noite Passada Eu Não Dormi'', ''Autorretrato'' e ''Talvez Não''
A cada novo lançamento, o Baianasystem reforça que é um nome singular dentro da música mundial: o grupo possui uma sonoridade própria e inimitável que é impossível de se enquadrar em um único gênero musical e consegue dialogar tanto com o mainstream quanto com o público underground. No novo álbum “O Mundo Dá Voltas'', a banda liderada por Russo Passapusso e Roberto Barreto fez, novamente, uma “salada” de vários ritmos afro-latinos — tanto que a lista de colaboradores deste trabalho inclui nomes diversos como Emicida, Gilberto Gil, Anitta, Seu Jorge, Pitty e Antônio Carlos & Jocafi.
''Praia do Futuro'', ''Batukerê'', ''A Laje'', ''Porta-Retrato da Família Brasileira'', ''Magnata'', ''Cobra Criada/Bicho Solto'' e ''Balacobaco''
Em seu 5° álbum de inéditas ''Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer'', o rapper carioca BK' se reafirmou como um dos maiores (e melhores) nomes contemporâneos do Hip Hop nacional. O grande sucesso profissional que Abele Bikila Costa Santos vive há algum tempo acabou permitindo que este álbum contasse com samples ou participações diretas de artistas de peso como Milton Nascimento, Djavan, Fat Family, Trio Mocotó, Pretinho da Serrinha, Luedji Luna e Evinha - isso trouxe uma pitada de MPB inédita para a discografia de BK', mas, mesmo assim, ''Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer'' se mantém coeso aos trabalhos anteriores do artista, pois não tira o lugar de protagonismo do rap em momento algum.
Minhas faixas favoritas:
''Só Eu Sei'', ''Não Adianta Chorar'', ''Só Quero Ver'', ''Te Devo Nada'', ''Eu Consegui'', ''Real'', ''Amém, Amém'', ''Abaixo das Nuvens'' e ''Cacos de Video''
Já faz algum tempo que o cantor Chico Chico saiu da sombra de sua saudosa mãe (Cássia Eller) e passou a ser amplamente reconhecido por suas ótimas composições próprias. Os primeiros álbuns dele foram em colaboração com outros artistas, mas, desde 2021, o músico vem investindo em uma carreira solo que se torna mais sólida a cada novo lançamento de inéditas. Ao lançar o seu 4° álbum solo ''Let It Burn/Deixa Arder'', em outubro de 2025, Chico mostrou mais do que nunca que é um artista muito versátil: o repertório deste trabalho navega por Folk, Blues, Rock, MPB e Soul, se alternando bastante entre o português brasileiro e a língua inglesa.
Entre os destaques do álbum, está a faixa ''Two Mother's Blues'', onde o cantor presta uma homenagem às duas mães que ele teve - a cantora Cássia Eller e a companheira dela em vida, Maria Eugênia (embora Cássia seja a mãe biológica, esta segunda criou mais proximidade com ele, visto que a cantora de ''Malandragem'' faleceu quando o filho tinha 8 anos).
Além de 17 composições autorais de Chico, este álbum ainda traz boas releituras dos clássicos ''Girl From The North Country'' (original de Bob Dylan e Johnny Cash), ''Four and Twenty'' (original do Crosby, Stills, Nash & Young) e ''Vila do Sossego'' (original de Zé Ramalho).
Minhas faixas favoritas:
''Tanto pra Dizer'', ''Farsa, Não Carece'', ''Tempo de Louças'', ''Two Mother's Blues'', ''Parabelo da Existência'', ''Heal Me'', ''Four and Twenty'', ''Vila do Sossego'', ''Girl From The North Country'' e ''Reason To Moan''
Desde 2022, o ConeCrew Diretoria vinha ensaiando o seu retorno à cena musical, através de shows de reunião esporádicos e alguns singles inéditos. Porém, foi só em novembro de 2025 que o grupo carioca oficializou a sua volta, lançando o álbum ''C.O.N.E (Caminhando Onde Ninguém Enxerga)''.
Mais de oito anos se passaram desde o trabalho de inéditas anterior do ConeCrew (que foi ''Bonde da Madrugada pt.2, de 2017). Em ''C.O.N.E'', percebemos que a essência irreverente dos rappers Ari, Batz, MC Cert, Rany Money e MC Batoré permanece, mas, ao mesmo tempo, é notável que todos eles estão mais maduros e não estão interessados em agir como covers de si mesmos.
Este é um álbum que transborda autenticidade, pois reflete a verdade atual do grupo, sem seguir nostalgia plastificada. Porém, a modernidade é na dose certa: ao mesmo que ''C.O.N.E'' traz uma estética contemporânea, ele não se rende aos autotunes do Trap (gênero que dita o mercado atual) e não foge da essência do ConeCrew. Certamente, irá agradar muito aos fãs de longa data do grupo.
Ah! E é claro que eu preciso exaltar as participações especiais e os beats SENSACIONAIS que o beatmaker/produtor Papatinho inseriu no álbum.
Minhas faixas favoritas:
''DADINHO É O CRLH'', ''COLHEITA'', ''ESSA ERA DA BOA'', ''NFL'', ''TOTAL90'', ''AL PACINO'', ''BONSAI'', ''CAMISA 11'', ''LÁ NA ÁREA'', ''AMOR BARATO'' e ''EVERYBODY IS FAKE''
Dazaranha- Entre Cantos
A banda florianopolitana Dazaranha sempre foi gigante aqui no Sul do Brasil, mas, em 2022, o grupo de reggae-rock tentou conquistar ouvintes de outras regiões do país, através de um disco lançado em parceria com a Midas Music (gravadora do famoso produtor Rick Bonadio). Entretanto, no mais recente álbum ''Entre Cantos'' (2025), fica claro que os membros do ''Daza'' desistiram da ideia de moldar o próprio som em prol da fama nacional: este novo trabalho foi lançado de forma independente e resgatou a essência regionalista da banda, ao apresentar várias canções sensacionais com letras repletas de referências a Florianópolis.
Os brasileiros do Sudeste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste não sabem o que estão perdendo.
Minhas faixas favoritas:
''Cometa'', ''Calmaria'', ''Guarda'', ''Meu Paraíso'', ''Tambores'', ''Vai ou Não Vai'' e ''Onde Nascem as Bruxas''
Aos 76 anos de idade, Djavan continua cheio de coisas boas para apresentar ao público: no repertório do seu mais recente álbum ''Improviso'', o artista alagoano incluiu 10 canções inéditas que ele compôs recentemente e duas composições muito antigas que ele nunca havia gravado.
A primeira joia ''do fundo do baú'' que aparece no disco é ''O Vento'' (canção que Djavan entregou para Gal Costa gravar, em 1976, mas que ele mesmo nunca havia gravado) e a segunda é a inédita ''Pra Sempre'' - um R&B com instrumental e melodia criados em 1987, sob encomenda de ninguém menos que Michael Jackson e Quincy Jones (essa música só não entrou no álbum ''Bad'', de Michael, porque Djavan extrapolou o prazo de entrega dela).
''Improviso'' é pura '''finesse'' sonora do começo ao fim, mas não espere que ele emplaque hits radiofônicos do mesmo alcance que ''Eu Te Devoro'', ''Sina'' e ''Samurai'' - afinal, o mercado da MPB, hoje, é bem mais nichado do que era no século XX.
Minhas faixas favoritas:
''Um Affair'', ''O Vento'', ''Pra Sempre'', ''Falta Ralar!'' e ''Um Brinde''
Em 2024, o rapper mineiro Djonga quebrou a sua tradição de lançar um álbum de inéditas por ano, mas, em 2025, a discografia do artista ganhou continuidade, com o lançamento do álbum ''Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto''. Este novo trabalho segue a mesma fórmula sonora que todos os demais álbuns de Djonga seguiram - para alguns ouvintes, o ''mais do mesmo'' pode ser entediante, mas, para mim, é sempre bem-vindo, quando vem de Djonga (e de alguns outros artistas seletos).
A ''cereja do bolo'' é a histórica participação de Milton Nascimento, na faixa ''Demoro a Dormir'' - como Milton se afastou totalmente da música, em setembro deste ano, após ser diagnosticado com Demência por Corpos de Lewy, é possível que esta colaboração com Djonga entre para a história como o último trabalho musical realizado por ele.
Minhas faixas favoritas:
''FOME'', ''JOÃO E MARIA'', ''MELHOR QUE ONTEM'', ''DEMORO A DORMIR'', ''LIVRE'', ''PONTO DE VISTA'' e ''AINDA''
Embora muitas pessoas tenham divulgado o álbum ''Emicida Racional VL.2: Mesmas Cores & Mesmos Valores'' como uma espécie de ''releitura do disco 'Cores e Valores', dos Racionais MC's (2014)'', ele é muito mais do que isso: neste novo lançamento, Emicida realmente pavimenta o seu retorno ao Rap purista através de vários samples dos Racionais (e entre os samples utilizados, estão sim trechos de músicas como ''Quanto Vale o Show?'' , ''A Praça'' e ''Um Preto Zica'', que pertencem ao álbum ''Cores e Valores''), mas ''Emicida Racional VL.2'' é, acima de tudo, um registro muito pessoal onde o rapper paulistano homenageia a sua recém-falecida mãe (Dona Jacira) em vinhetas emocionantes e revisita as suas próprias origens musicais.
Quando Don L entregou os politizados álbuns conceituais ''Roteiro para Aïnouz, Vol.3'' (2017) e ''Roteiro para Aïnouz, Vol.2'' (2021), ele deixou claro que tais trabalhos seriam parte de uma trilogia lançada em ordem regressiva. Lançar, eventualmente, o terceiro capítulo dessa trilogia continua nos planos do rapper cearense, mas, em 2025, Don L preferiu lançar o álbum ''Caro Vapor II: qual a forma de pagamento?'', que repete a proposta sonora da mixtape ''Caro Vapor/Vida e Veneno de Don L'' (2013), ao apostar em letras mais leves e na mistura do Rap com gêneros tipicamente brasileiros.
Diferente dos discos da série ''Roteiro para Aïnouz'', ''Caro Vapor II'' não possui letras guiadas por uma única pauta conceitual. Cada um desses três álbuns contém várias faixas com teor político, mas, somente em ''Caro Vapor II'', elas se alternam com composições que falam sobre amor, sexo ou outros temas diversos.
Assim como o primeiro volume de ''Caro Vapor'', este novo álbum também foi gravado com a presença de vários convidados especiais (os escolhidos, desta vez, foram nomes como Alice Caymmi, Giovani Cidreira, Fernando Catatau, Anelis Assumpção, Luiza De Alexandre, Terra Preta, Iuri Rio Branco, MC Dricka e Nave, que, em sua maioria, já haviam gravado com Don L antes). Outra semelhança deste recente trabalho com a mixtape de 2013 é que ele foge do óbvio, quando apresenta samples de MPB: entre as músicas que foram sampleadas, em ''Caro Vapor II'', estão ''Senhor Dono da Casa'' (de Belchior), ''Tristeza Não'' (de Itamar Assumpção), ''Só Joia'' (de Dorival Caymmi) e outras joias subestimadas.
Minhas faixas favoritas: ''''Para Kendrick e Kanye'', ''aFF Maria'', ''Pimpei seu Estilo'', ''BOSSa'', ''Tristeza Não'', ''Saudade do Mar'', ''Iminência Parda'', ''iMigrante'', ''Dias de Verão'' e ''mar da ARgélia''
Em 2025, o Ego Kill Talent virou meme no Brasil, após muitas pessoas perceberem que o grupo é escalado para abrir shows internacionais gigantes de uma maneira frequente demais para ser espontânea (fontes confiáveis confidenciaram a mim que muitas das aberturas que o EKT realizou eram parte de trocas de favores ocorridas entre o líder do grupo, Theo Van der Loo, e funcionários da produtora 30eBR). Porém, independente disso, eu continuo considerando o Ego Kill Talent uma das melhores bandas brasileiras de rock da safra moderna - por isso, nas próximas linhas, irei me ater apenas ao lançamento musical que o quinteto entregou neste ano: o EP ''Flashes of Light''.
Este é o segundo EP que o Ego Kill Talent lança, desde que o posto de vocalista do grupo deixou de ser de Jonathan Corrêa e se tornou de Emmily Barreto (cantora que também integra o Far From Alaska). Como a chegada de Emmily deu uma nova cara para a banda, os membros do Ego Kill Talent decidiram que ''Flashes of Light'' incluiria, não somente as ótimas canções inéditas ''Reflecting Love'', ''Never Fading Light'' e ''My Uninvited Guest'', mas também regravações de dois sucessos da ''Era-Jonathan: agora, as músicas ''Last Ride'' , de 2017 e ''Sin and Saints'', de 2021, contam com versões de estúdio alternativas, onde Emmily é quem exerce os vocais.
Minhas faixas favoritas:
''Reflecting Love'',''Last Ride (her)'' e ''Never Fading Light''
Neste trabalho, as referências aos Racionais estão presentes, pois eles são os artistas que mais inspiraram Leandro Roque de Oliveira a se tornar um rapper (aliás, tais referências vêm, não apenas do repertório de ''Cores e Valores'', mas também de algumas músicas mais antigas do grupo). Porém, ao longo das 10 faixas deste álbum, o clima de retorno aos primórdios também é evocado quando Emicida canta sobre sua infância, colabora com três amigos que o acompanharam no início da carreira (no caso, Projota, Rashid e DJ Nyac), homenageia outros dos seus heróis musicais com samples sutis e inclui vinhetas com trechos de sucessos como Levanta e Anda e Boa Esperança, que marcaram a sua própria discografia autoral.
A sonoridade de ''Emicida Racional VL.2 '' traz bastante do Rap purista que faltou no álbum ''AmarElo'' (2019), mas, como Leandro nunca escondeu que é (quase) tão fã de MPB quanto é de Hip Hop, a faixa ''Us Memo Preto Zica'' acabou remetendo aos álbuns mais recentes do artista: nela, Emicida canta ao lado das filhas e transforma um instrumental famoso dos Racionais em um samba.
Em suma, este é um álbum onde Emicida celebra a própria carreira musical e homenageia algumas pessoas que foram essenciais para que essa carreira existisse - essas pessoas são: os membros dos Racionais MC's, os amigos que acompanharam ele na cena do Hip Hop paulista dos anos 2000 e, claro, a maior incentivadora dele, Dona Jacira.
Minhas faixas favoritas:
''Bom dia né gente (ou saudade em modo maior)'', ''Mesmas Cores Mesmos Valores'', ''O Que Noiz Faz com essa Dor?'', ''A Coisa Mais Esperançosa e mais Dilacerante são a Mesma'', ''A Mema Praça'', ''Quanto Vale o Show Memo?'' e ''Us Memo Preto Zica''.
Fábio Brazza- A Roda, a Rima, o Riso e a Reza
Em A Roda, a Rima, o Riso e a Reza, Fábio Brazza está mais imerso do que nunca na ''brasileiragem'': ao longo das 14 faixas deste álbum, o artista paulistano incorpora Samba, Pagode, Embolada e Música de Capoeira aos seus Raps inteligentes e, em alguns momentos, até se aventura a explorar tais gêneros tupiniquins em suas versões mais puristas.
Além de ser uma homenagem à música de origem brasileira, este trabalho também é uma celebração à pluralidade musical. Aqui, Brazza divide vocais com Ferrugem, Criolo, Atitude 67, Xande de Pilares, Mestrinho e Caju & Castanha, para mostrar que uma roda de rap não está tão distante de rodas de samba ou capoeira - e que as rimas dos MC's se assemelham bastante aos repentes de uma embolada.
Minhas faixas favoritas:
''Cê Já Se Perguntou'', ''Sonhos'', ''Pra Quem Tem Fé'', ''Brasileiragem'', ''Eu Só Sei Que Foi Assim'', ''Milagre da Música'', ''Brasil em Chamas'' e ''Ouve a Palavra''.
Logo no início de 2025, o Far From Alaska entrou em um hiato, para que os seus três membros possam se dedicar a trabalhos paralelos (há alguns anos, a vocalista Emmily Barreto e a multi-instrumentista Cris Botareli integram o Ego Kill Talent juntas, enquanto o guitarrista Rafael Brasil faz parte do grupo Swave). Porém, antes de dar início a essa pausa, a banda potiguar lançou o álbum ''3'' - que, além de compilar os materiais dos EP's ''3.1'' (2022), ''3.2'' (2023) e ''3.3'' (2024), também trouxe as canções inéditas ''Trouble'', ''Go Ahead'' e ''The Sun''.
Este é, com certeza, o álbum mais experimental do Far From Alaska: nele, o trio tirou o foco do rock, pela primeira vez, e deu protagonismo à música eletrônica indie (de uma maneira que me lembrou muito a sonoridade de grupos como o Cansei de Ser Sexy). Além disso, este trabalho também traz elementos fortes de pop, reggae, MPB, rap e xote. Em algumas faixas, a banda causa estranheza ao tentar inovar demais, mas o saldo geral do álbum é bastante positivo.
Minhas faixas favoritas:
''txananam'', ''cuz you'', ''future'', ''aauu'', ''meltdown'', ''trouble'', ''go ahead'' e ''the sun''.
FBC- Assaltos & Batidas
Após ter se aventurado pelo Funk carioca raiz (no álbum ''Baile'', de 2021) e pela Disco Music (no álbum ''O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão nos Levar para Outro Planeta'', de 2023), o rapper/cantor mineiro FBC retornou ao Rap, em seu novo álbum ''Assaltos & Batidas''. Por mais que este seja o 6° trabalho de estúdio onde Fabrício explora tal gênero musical, ''Assaltos & Batidas'' difere dos demais álbuns de rap do artista, pois, ao invés de focar em elementos modernos, ele é totalmente pautado na sonoridade noventista de grupos como Racionais MC's, Cypress Hill, NWA e Facção Central.
As letras deste álbum são profundamente políticas e incisivas, ao abordar temáticas como guerra às drogas, desigualdade de renda, ilusão do crime como ''solução fácil'', luta de classes e violência policial, através da perspectiva dos moradores periféricos. No decorrer de ''Assaltos & Batidas'', FBC e seus beatmakers parceiros apresentam diversas referências inteligentes que vão de Carlos Marighella ao filme ''Rede de Intrigas'' (1976), passando por Jimmy Hoffa e por samples de Racionais MC's e Baianasystem.
Minhas faixas favoritas: ''Cabana Terminal'', ''A Voz da Revolução'', ''Você Pra Mim É Lucro'', ''Assaltos e Batidas'', ''Estamos Te Vendo'' e ''Me Diga Quem Ganha''.
O álbum ao vivo ''Live in NYC'' registra um show que Hamilton de Holanda realizou no Dizzy's Club, de Nova York, em outubro de 2024. Na gravação, o bandolinista carioca só tocou composições instrumentais inéditas, acompanhado, não apenas do tecladista Salomão Soares e do baterista Thiago Big Rabello (que tocam na banda dele há anos), mas também do cultuado saxofonista estadunidense Chris Potter.
Todas as 11 músicas que fizeram parte do espetáculo demonstram muito bem o virtuosismo instrumental absurdo que Hamilton e os músicos que acompanham ele possuem. Este é um álbum perfeito para os adoradores de Jazz.
Minhas faixas favoritas: ''Saudades do Rio'', ''Tamanduá'', ''Deus É Amor Pra Tudo Que É Fé'', ''Afro Choro'', ''Flying Chicken'', ''01 Byte 10 Cordas'', ''Sol e Luz'' e ''Sábado Azul''.
O segundo álbum solo da cantora Jadsa se chama ''Big Buraco'', não por conter letras pautadas em fossa ou algo do tipo, mas sim porque, durante a concepção deste trabalho, a artista baiana de 30 anos ''escavou'' profundamente novos gênero musicais para incorporar à sua sonoridade experimental.
No espetacular álbum ''Olho de Vidro'' (2021), nós ouvimos Jadsa misturando MPB com Rock, Jazz, Reggae e Dub, mas, em ''Big Buraco'', a cantora cavou ainda mais fundo e explorou, também, elementos sonoros característicos de Soul, Blues ou Hip-Hop. Entretanto, a MPB presente aqui é um pouco diferente da que aparece em ''Olho de Vidro'': em muitas faixas de ''Big Buraco'', a música afro-baiana dá lugar a gêneros tupiniquins menos nichados (como o Samba e o Choro).
Ao explorar MPB de uma maneira mais universal, acrescentar elementos de Hip Hop e inserir uma presença menor de Jazz em ''Big Buraco'', Jadsa fez deste um álbum um pouco mais radiofônico que ''Olho de Vidro''. Porém, este trabalho de 2025 não foge da essência Indie experimental da artista e, certamente, irá agradar aos que gostaram do álbum anterior.
Minhas faixas favoritas: ''Big Bang'', ''Sol na Pele'', ''Big Luv'', ''No Pain'', ''1000 Sensations'', ''Um Choro'', ''Samba Pra Juçara'' e ''Big Buraco''.
O álbum ''Dominguinho'' registra um encontro musical inédito de João Gomes, Mestrinho e Jota Pê, no Sítio Histórico de Olinda. Acompanhados de apenas dois músicos de apoio, os três cantores misturaram os seus respectivos sucessos autorais com uma canção inédita (''Flor'') e uma releitura surpreendente de ''Pontes Indestrutíveis'' (clássico do Charlie Brown Jr.).
Os arranjos minimalistas presentes neste trabalho deram mais leveza e brasilidade ao repertório do trio. Trata-se de um álbum delicioso de se ouvir do começo ao fim - e nem preciso dizer que a simpatia de João, Mestrinho e Jota Pê é um verdadeiro show à parte.
Minhas faixas favoritas:
''Lembrei de Nós'', ''Beija-Flor'', ''Arriadin por Tu'', ''Mala e Cuia'', ''Some ou Me Assume'', ''Lenda'' e ''Pontes Indestrutíveis''.
''Maravilhosamente Bem'' é o segundo álbum consecutivo onde a cantora Júlia Mestre (ex-integrante do Bala Desejo) abraça o Indie Pop e se distancia significativamente da sonoridade tipicamente brasileira que pautou os seus primeiros trabalhos. Porém, Júlia continua seguindo uma proposta vintage que remete bastante à música brasileira de antigamente: ao ouvir ''Maravilhosamente Bem'' inteiro, lembrei várias vezes dos discos que Rita Lee lançou com Roberto de Carvalho, durante as décadas de 1970 e 1980, e dos trabalhos áureos de outros artistas pop oitentistas - como Lulu Santos e Marina Lima (aliás, Marina participa do álbum, recitando um poema durante a faixa ''Marinou, Limou'').
Minhas faixas favoritas:
''Maravilhosamente Bem'', ''Sou Fera'', ''Vampira'', ''Pra Lua'', ''Veneno da Serpente'', ''Seu Romance'', ''Marinou, Limou'' e ''Cariñito''
*A segunda parte da minha lista de ''Melhores Álbuns de 2025'' será postada no dia 30/12!*
