Falecidos no início desta semana, Udo Kier e Jimmy Cliff possuíam em comum uma forte ligação com o Brasil

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A semana começou com duas notícias tristes: no domingo (23), morreu o ator
alemão Udo Kier e, na segunda-feira (24), quem partiu foi o músico jamaicano Jimmy Cliff — uma das maiores lendas do Reggae mundial. Curiosamente, esses dois artistas que morreram com poucas horas de diferença tinham várias coisas em comum: ambos tinham 81 anos de idade e ambos possuíam uma forte ligação com a cultura brasileira — tanto que eles já colaboraram mais de uma vez com artistas tupiniquins. 

Udo Kier era conhecido por trabalhar com diretores de todas as partes do mundo: ele participou de longas-metragens estrangeiros como “Sangue Para Drácula” (1974), “Suspiria” (1977), “Garotos de Programa” (1991), “Melancolia” (2011), “Brilho para a Eternidade” (2021) e “Meu Vizinho Adolf” (2022), mas também desempenhou papéis importantes nos aclamados filmes brasileiros “Bacurau” (2019) e “O Agente Secreto” (2025) — que foram dirigidos por Kléber Mendonça Filho e estão entre os trabalhos mais cultuados da filmografia de Kier. 

Udo interpretou um dos principais antagonistas de ''Bacurau'' e viveu um sobrevivente da 2ª Guerra Mundial, em ''O Agente Secreto''. Nesses filmes, ele contracenou com atores do naipe de Sônia Braga e Wagner Moura (Foto: Divulgação)


Jimmy Cliff, por sua vez, chegou a morar em Salvador, no Rio de Janeiro e em São Paulo, durante a década de 1980. Entretanto, ele começou a se apresentar no Brasil bem antes disso: o primeiro show dele por aqui foi em 1968, no Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro  — e durante essa primeira vinda, o cantor se encantou com a música brasileira a ponto de decidir gravar o álbum “Jimmy Cliff In Brazil” (1968), que traz versões em inglês de músicas daqui. 26 anos depois, ele ainda lançou um segundo volume de “Jimmy Cliff In Brazil” - dessa vez, com clássicos autorais dele tocados com arranjos tipicamente brasileiros. 

De 1968 pra cá, Cliff fez diversos shows no Brasil e chegou até a cantar ao lado de alguns patrimônios do nosso país: em 1980, ele e Gilberto Gil fizeram uma mini-turnê conjunta por cinco capitais brasileiras; dez anos depois, ele aceitou um convite dos membros do Cidade Negra e gravou a canção “Mensagem” ao lado deles; em 1992, ele incluiu no álbum “Breakout” faixas em parceria com os grupos Olodum (“Samba Reggae'' ) e Araketu (“War a África” e “Breakout”). Em 1997, por fim, ele participou do “Acústico MTV” dos Titãs, entregando vocais na faixa “Querem Meu Sangue” (que é uma versão em português que Nando Reis fez para o clássico “The Harder They Come”, de Cliff). 





Jimmy Cliff gravou os videoclipes das músicas “We All Are One” (1984) e ''Samba Reggae'' (1992) aqui no Brasil, mas essas não foram as únicas obras visuais que o artista gravou em solo brasileiro: como Cliff era ator nas horas vagas, ele chegou a fazer pontas nas telenovelas “Partido Alto” (1984) e “Barriga de Aluguel”(1990), a convite da TV Globo. 

Além disso tudo, o cantor namorou várias mulheres brasileiras — e de um desses relacionamentos que ele teve, nasceu Nabiyah Be (filha baiana dele que, atualmente, possui 33 anos de idade). 

Assim como Udo Kier e Jimmy Cliff, diversos outros artistas estrangeiros já demonstraram possuir devoção pelo cinema e pela música do Brasil. Porém, infelizmente, é muito comum ver brasileiros desmerecendo a própria cultura. O Brasil talvez seja o único país do mundo onde os maiores haters de uma arte local são os próprios cidadãos nativos.  



A coluna de Lucas Couto no Lages Diário tem o patrocínio de:

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