Alerta é do Centro de Estudos Avançados da Economia Avançada, Cepea, da Universidade de São Paulo (USP).
20/07/2025 — 18:53
A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump, pode provocar sérios impactos na balança comercial do agronegócio nacional. O alerta é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que aponta risco de retração nas vendas externas e pressão sobre os preços pagos ao produtor rural.
Entre os setores mais sensíveis ao chamado tarifaço estão o de suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas. De acordo com o Cepea, o suco de laranja é o item mais vulnerável à medida, já que atualmente já incide uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada. A nova sobretaxa elevaria significativamente os custos de entrada no mercado norte-americano — segundo maior destino das exportações brasileiras — comprometendo sua competitividade.
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Os Estados Unidos importam cerca de 90% do suco consumido internamente, sendo o Brasil responsável por aproximadamente 80% desse volume. A medida ocorre em um momento de safra positiva no estado de São Paulo e Triângulo Mineiro, com previsão de 314,6 milhões de caixas para 2025/26 — crescimento de 36,2% em relação ao ciclo anterior. Segundo Margarete Boteon, pesquisadora da Esalq/USP, a incerteza no mercado pode gerar acúmulo de estoques e queda nos preços internos.
No setor cafeeiro, o impacto também é expressivo. Os EUA são o maior consumidor global de café e importam cerca de 25% da produção brasileira, com destaque para a variedade arábica. Como o país não produz café, um aumento de custos na importação pode afetar toda a cadeia local — torrefadoras, cafeterias, indústrias de bebidas e redes de varejo. Para o pesquisador do Cepea Renato Ribeiro, a exclusão do café da lista tarifária é estratégica para ambos os países.
Já a carne bovina brasileira também está na mira das novas tarifas. Os EUA são o segundo maior destino da proteína brasileira, atrás apenas da China, que concentra 49% das exportações. Entre março e abril, as empresas norte-americanas compraram mais de 40 mil toneladas por mês, volume recorde que pode indicar um movimento de antecipação frente à expectativa de taxação. Estados como São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul são os principais exportadores do produto para os EUA.
Apesar da recente queda nos embarques para o mercado norte-americano, outros destinos, como a China, vêm ampliando suas compras. Segundo o Cepea, isso demonstra a possibilidade de redirecionamento das exportações para diferentes mercados internacionais.
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No caso das frutas frescas, a manga é o produto mais exposto no curto prazo, já que o pico de exportações para os Estados Unidos ocorre a partir de agosto. A uva também deve ser impactada, com safra relevante para o mercado norte-americano prevista para setembro. Diante da incerteza tarifária, produtores já reportam adiamento de embarques.
Antes do anúncio do tarifaço, havia expectativa de crescimento nas exportações de frutas frescas, apoiada na valorização cambial e na recuperação produtiva. Segundo o pesquisador Lucas de Mora Bezerra, do Cepea, agora o setor vive um cenário de dúvidas, com possível redirecionamento da produção para o mercado interno ou outros destinos, como a União Europeia — o que pode gerar desequilíbrio entre oferta e demanda e pressionar os preços pagos ao produtor.
Diante do cenário, o Cepea destaca a urgência de uma resposta diplomática coordenada entre os governos. “A revisão ou exclusão das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros é estratégica não apenas para o Brasil, mas também para os Estados Unidos, cuja segurança alimentar e competitividade da agroindústria dependem do fornecimento brasileiro”, conclui a nota técnica da instituição.
*Com informações da Agência Brasil