O juiz Silvio Orsatto,
titular do Juizado Especial Cível da comarca de Lages, intermediou o processo e
compôs o grupo que recebeu 95 quilos de material histórico de Lages.
Por TAINA BORGES da
ASCOM DO TJ-SC COMARCA DE LAGES
em Lages/SC
📷 FCL / Divulgação |
A maior referência da
história dos 252 anos de Lages é encontrada na obra de Licurgo Costa, em “O
Continente das Lagens”. Mas, a doação de um acervo para o Município deve
contribuir e revelar fatos que podem mudar aquilo que se sabe da “Princesa da
Serra”. A transferência de documentos públicos com mais de 200 anos, anotações,
livros, compilados e estudos sobre a cidade e a genealogia foi feita com a
colaboração do Judiciário Catarinense. O juiz Silvio Orsatto, titular da
Juizado Especial Cível da comarca local, intermediou o processo e compôs o
grupo que recebeu 95 quilos de material histórico, nesta semana.
O pesquisador e escritor
alemão Walter Dachs veio para o Brasil aos 24 anos. Aos 42 casou-se em Lages e,
logo em seguida, iniciou a pesquisa. Com sua morte, aos 64 anos, tudo aquilo
que conseguiu juntar ficou com a família. Depois de cinco décadas, resolveram
doar o acervo que estava em Vitória, no Espírito Santo. Leticia Muniz,
neta de Walter, quem fez o contato com o Instituto Histórico e Geográfico de
Lages, responsável pela curadoria técnica-científica, e o Museu Thiago de
Castro, que fará a guarda, conservação e disponibilização do acervo ao público.
Muita coisa ainda será
identificada por conta do estado de conservação e a ação do tempo nos
documentos, o que resultou na fragilidade dos papéis. Um deles, com data de
1848, trata da “Actas das Sessoens do Jury Lages”. Outro, sem identificação do
conteúdo, dá conta de registros de reuniões do período de 1829 a 1836. Há,
ainda, o diploma do curso de Direito de Joaquim Fiuza de Carvalho, de 1864, e
livros contando a história de vereanças a partir de 1771.
Outro documento que chama
a atenção trata do discurso de Octacilio Costa (grafia do documento), feito no
Rio de Janeiro, em 1949, com o título “Anita Garibaldi. Heroína de Dois
Mundos”. Além desses, existem documentos que discorrem sobre fatos da história
de Santa Catarina, a genealogia de personalidades como Nereu Ramos e alguns
religiosos.
📷 FCL / Divulgação |
Para o juiz Silvio
Orsatto, muita informação virá à tona nos próximos cinco anos. “Hoje, a
tecnologia nos permite recuperar essas raridades. Lages recebe um importantíssimo
presente com o material que vai resgatar essa memória”. O magistrado reforça
que o processo intermediado pela equipe da comarca foi fundamental para a
conquista. “Esse viés de conciliador permitiu darmos agilidade aos trâmites. Em
duas semanas, tudo foi resolvido. Um tempo curto, na minha avaliação”.
Uma equipe técnica do
Museu Thiago de Castro e historiadores farão a higienização, catalogação e
digitalização do acervo para disponibilizar ao público. Ainda não há prazo para
que isso ocorra.
Um guardado de três
gerações
Leonida Krieger se casou
com Walter aos 25 anos. Além de companheira de vida do historiador, ela foi a
principal incentivadora do marido em suas pesquisas sobre Genealogia e História
de Lages. Depois de 22 anos de uma união baseada em cumplicidade, parceria,
respeito e admiração mútuos, ficou precocemente viúva, o que para ela foi uma
perda irreparável. Enquanto esteve em vida, se apegou a todos os pertences do
professor Walter de maneira especial, nunca se desprendeu de nada.
Com o falecimento de
Leonida, o acervo seguiu guardado na casa de Maria Tereza, filha de Leonida e
mãe de Leticia, com quem Leonida residia desde o falecimento de Walter.
"Quando soube do
acervo e compreendi que tipo de material era, vislumbrei o valor. Esse material
deveria ter o tratamento correto e estar acessível a quem se envolve com
pesquisas na área, e não seguir guardado numa residência, esquecido no tempo”,
diz Leticia, que há algum tempo se propôs a catalogar o material, estabelecer
contatos e procurar a melhor forma de doação.
“Por ser leiga na área,
fui meio errante, mas com um propósito firme até encontrar o caminho ideal, que
atendesse a critérios essenciais - o tratamento correto de um material
histórico de alto valor, a acessibilidade a institutos e pesquisadores e o
direcionamento a quem, por direito, deveria ser o proprietário desses
documentos. Esse foi meu norte”, revela.
“E fico muito feliz ao
ver que o material compilado e a obra produzida por meu avô com tanta dedicação
de tempo e energia terão agora bons desdobramentos e tenderão tantos frutos e
benefícios aos lageanos", finaliza.