Reflexão pessoal sobre a megaoperação ocorrida no Rio de Janeiro, nesta terça

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Foto: REGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO


Normalmente, eu utilizo esse espaço que ganhei no Lages Diário para dar notícias factuais (afinal, é o tipo de texto jornalístico que eu mais gosto de fazer). Apesar de terem colocado as minhas matérias em uma editoria com o nome ''Coluna Lucas Couto'', eu nunca me considerei um ''colunista'', pois sempre optei por adotar uma abordagem impessoal em meus textos, onde todas as minhas opiniões próprias sobre os tópicos que eu abordo costumam ser dadas de maneira discreta. 


Porém, é difícil não se manifestar quando o Brasil inteiro comenta sobre o caos que foi a megaoperação policial ocorrida nesta terça-feira (28), no Rio de Janeiro. Até o momento, sabemos que tal ocorrido resultou em 121 mortos - entre as quais, estão 4 policiais e 117 pessoas cujas identidades ainda não foram reveladas pelo Instituto Médico Legal (IML) do Rio. É preciso ser extremamente ingênuo para acreditar que esse conflito não vitimou nenhum morador de favela inocente que estava passando ali por perto na hora errada  — afinal, o tiroteio aconteceu em uma região onde habitam cerca de 280 mil cariocas.


Apesar disso, o governador do Rio de Janeiro (Cláudio Castro, filiado ao PL) definiu a ação como ''um sucesso'' e está usando o ocorrido para se promover politicamente (por lei, Castro não pode tentar um terceiro mandato seguido como Governador, mas ele utilizou essa operação como a brecha perfeita para fortalecer a sua pré-candidatura ao Senado, prevista para as próximas eleições). Outra figura famosa do PL que manifestou felicidade pelo ocorrido foi o deputado federal Nikolas Ferreira: em pronunciamento na câmara, ele descreveu a operação como ''a maior faxina da história'' e, em tom de deboche, disse que ''a esquerda perdeu 60 eleitores'' — ainda que os problemas sociais que mantém as facções envolvidas de pé existam muito por causa da extrema direita. 


É óbvio que os traficantes do Comando Vermelho/CV que foram exterminados nessa operação eram bandidos perigosos com um enorme histórico criminal... porém, é uma ingenuidade absurda acreditar que o Rio de Janeiro amanheceu mais seguro, nesta quarta-feira. O crime organizado se estabeleceu de maneira tão sistemática na capital carioca (e no Brasil inteiro) que, infelizmente, traficantes sucessores certamente já assumiram o lugar dos exterminados. 

A extrema-direita adora acreditar na visão rasa, simplista, utópica e infantilmente ingênua que prega que o crime organizado será erradicado na base da bala, mas, infelizmente, as facções criminosas estão tão presentes em nosso país que jamais deixarão de crescer, se a raiz desse problema não for cortada. 

Em qualquer lugar do mundo, o tráfico só existe graças à proibição da venda legal de mercadorias (eu nunca usei drogas e não prego o uso delas, mas considero absurdo o fato d'o consumo delas ser tratado como uma questão criminal, ao invés de ser tratado como questão de saúde pessoal). Outros crimes, por sua vez, são muito intensificados pela enorme desigualdade social existente no Brasil... porém, pouco é feito para corrigir tais problemas sistêmicos que REALMENTE enfraqueceriam a presença da criminalidade por aqui. As autoridades políticas brasileiras continuam sacrificando vários policiais honestos e uma série de pessoas periféricas inocentes para dar a alguns votantes ingênuos a ilusão de que a criminalidade no Brasil está sendo resolvida com a morte de umas dezenas de traficantes. Infelizmente, só o que estão fazendo é enxugar gelo com pano. 


Esta coluna não representa necessariamente a opinião editorial do Lages Diário. Apenas a opinião pessoal do redator em questão. 



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