Nesta sexta-feira (31), às 21 horas e 30 minutos, o Canal Brasil exibirá o primeiro episódio da minissérie documental ''Primavera Nos Dentes: A História do Secos & Molhados''. Ao longo dos quatro capítulos semanais que serão televisionados, nós viajaremos pelos bastidores de uma das bandas mais icônicas do Brasil, através de imagens de arquivo raras e de depoimentos exclusivos vindos de quatro ex-integrantes do grupo: Ney Matogrosso (ex-vocalista), Gerson Conrad (ex-violonista), Willy Verdaguer (ex-baixista) e Emílio Carrera (ex-pianista).
Porém, essa série documental possui o grande defeito de não contar com qualquer contribuição de João Ricardo. Isso porque o compositor principal, violonista e fundador do Secos & Molhados recusou todos os convites que recebeu para participar desta obra — principalmente porque a participação dele envolveria um reencontro presencial com os ex-colegas de banda que, de maneira correspondida, enxergam ele como persona non grata.
Para os que não sabem, em 1973, o Secos & Molhados se tornou um dos grupos mais bem-sucedidos da música brasileira, graças à união das respectivas habilidades de João Ricardo e Ney Matogrosso: o primeiro possuía um talento incrível para compor, enquanto o segundo dava vida ao repertório da banda, com a sua voz inimitável e as suas performances andróginas chamativas. Entretanto, João nunca reconheceu que Ney era tão importante para o grupo quanto ele e, na época, tratou o cantor como um mero músico contratado que merecia receber menos dinheiro que ele, por não contribuir nas composições. Isso acabou gerando várias brigas que, em 1974, fizeram com que Ney decidisse deixar o Secos & Molhados, no auge do sucesso do grupo.
Após a saída de Ney, João Ricardo assumiu o posto de vocalista da banda e lançou mais sete álbuns de estúdio utilizando o nome ''Secos & Molhados''... mas nenhum deles chegou perto de causar 10% do impacto avassalador que os dois discos gravados com Ney causaram. Mesmo assim, João segue, até hoje, sem admitir que o ''homem com H'' foi essencial para que a banda atingisse o estrelato.
O documentário ''Primavera nos Dentes'' é quase que inteiramente dedicado à fase de ouro do Secos & Molhados — ou seja, ele partirá da fundação do grupo (ocorrida em 1970) até a saída de Ney. Porém, é importante lembrar que, infelizmente, clássicos como ''Sangue Latino'', ''O Vira'', ''Fala'', ''Flores Astrais'', ''O Patrão Nosso de Cada Dia'', “Amor” e ''Mulher Barriguda'' não serão tocados em nenhum episódio, pois João Ricardo não permitiu que as suas composições musicais fossem utilizadas pelo Canal Brasil, nessa minissérie documental. Para tentar contornar essa sabotagem de João, o diretor Miguel de Almeida decidiu focar em depoimentos e na promoção de um encontro entre Ney Matogrosso, Gerson Conrad, Willy Verdaguer e Emílio Carrera dentro de um estúdio de gravação — nesse encontro, os quatro gravaram uma música inédita intitulada ''Ouvindo o Silêncio''.
A nova música foi composta por Gerson, em parceria com Paulinho Mendonça (o coautor de “Sangue Latino”). Confira ela, abaixo:
Embora a minissérie ofereça uma visão unilateral dos fatos, ela acaba funcionando como um complemento importante para o documentário “Secos & Molhados” (2021) — onde apenas João Ricardo contou a sua versão da história.
“Primavera nos Dentes: A História do Secos & Molhados” terá episódios semanais no Canal do Brasil, ao longo das três próximas sextas-feiras. Após a exibição televisiva, cada capítulo da minissérie entrará imediatamente no catálogo da Globoplay.
A coluna de Lucas Couto no Lages Diário tem o patrocínio de:
