Sepultamento tem de ocorrer de quatro a seis dias após morte, e cardeal escolhido pelo pontífice chefia interinamente a Igreja.
21/04/2025 — 09h11
Papa Francisco morreu aos 88 anos nesta segunda-feira (21), desde então, o Vaticano inicia uma série de ritos que devem ser seguidos a respeito do funeral do líder da Igreja Católica. O "Ordo Exsequiarum Romani Pontificis" (ritos funerais para um pontífice romano) contém indicações para a liturgia e as orações das cerimônias envolvem o sepultamento. Quase 25 anos depois de sua primeira edição, uma nova versão foi publicada em novembro de 2024, após aprovação de Francisco, com a intenção de simplificar alguns processos.
Dentre as mudanças, a morte do papa passou a ser constatada em sua capela privada, e não mais no quarto do pontífice.
A pedido de Francisco, foram eliminados os três tradicionais caixões de cipreste, chumbo e carvalho (um colocado dentro do outro) por apenas um, simples, de madeira com revestimento de zinco.
Mudanças na Constituição "Universi Dominici Gregis"
Publicada em 1996 pelo então Papa João Paulo II (1920-2005), a Constituição "Universi Dominici Gregis" (todo o rebanho do Senhor), reúne, em mais de 90 artigos, as regras de como proceder desde quando o posto do papa fica vago até a posse do substituto. As últimas mudanças ocorreram em 2013, por meio do Papa Bento XVI (1927-2022), antes do mesmo renunciar ao cargo.
Camerlengo tem papel fundamental após morte de Papa
Quando o papa morre, o Colégio Cardinalício, o grupo de cardeais, assume as funções de Estado e de governo do Vaticano, sob autoridade do camerlengo, um cargo nomeado pelo papa. Desde 2019, o irlandês naturalizado norte-americano Kevin Joseph Farrell ocupa a vaga, escolhido por Francisco.
É o camerlengo que fica responsável pelos bens da Santa Sé e estabelece o cronograma de reuniões preparatórias para o conclave, como é chamada a assembleia de cardeais que elege o próximo pontífice, assim como fica responsável pelos ritos fúnebres.
Com a informação da morte do pontífice, o camerlengo tem a tarefa de verificar o óbito e lacrar o quarto e o escritório papais. Na sequência, os cardeais espalhados pelo mundo são avisados, assim como os chefes de Estado internacionais. Os ritos fúnebres devem durar nove dias, e o sepultamento precisa ocorrer entre o quarto e o sexto dia após a morte.
Confira o rito até a escolha do novo papa
- O governo e as funções do Estado do Vaticano são confiados ao Colégio de Cardeais, sob a autoridade do cardeal carmelengo, nomeado pelo Papa — cargo atualmente ocupado por Kevin Joseph Farrell;
- Ele é auxiliado por três assistentes, sorteados entre os eleitores (com menos de 80 anos) e substituídos a cada três dias;
- Estabelece o dia de início das reuniões preparatórias dos cardeais; para a eleição do papa, que passam a ser diárias, mesmo durante o funeral. Eles se reúnem no Palácio Apostólico do Vaticano;
Funeral
- Logo após a morte do papa, cabe ao camerlengo constatar oficialmente o óbito, na presença do mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias e autoridades do Vaticano;
- Se o Papa não tiver deixado indicações para sepultamento, o camerlengo decide como e quando o corpo do papa morto entrará na Basílica São Pedro, para exposição aos fiéis;
- Cabe aos cardeais definir os detalhes das cerimônias fúnebres, que devem durar nove dias seguidos; o sepultamento deve ocorrer entre o 4º e o 6º dia após a morte. Também definem quando começa a votação.
- No caso do Papa Francisco, ele solicitou que o caixão seja simples, de madeira e revestido de zinco, em substituição aos três caixões, de cipreste, chumbo e carvalho, que eram colocados um dentro do outro.
Conclave
- Após a morte, os cardeais devem esperar até 15 dias pelos colegas ausentes para iniciar o conclave, sendo que pode ser antecipado ou adiado, mas os eleitores presentes devem obrigatoriamente começar a votação em no máximo 20 dias;
- Somente os cardeais com menos de 80 anos (até o dia da morte ou da renúncia do papa) estão aptos a votar;
- O conclave deve ser presidido pelo cardeal decano, mas como o atual é Giovanni Battista Re, tem mais de 80 anos e não pode participar da votação, a função caberá ao eleitor mais velho entre os aptos, que no caso é Pietro Parolin.
- Antes do início do conclave, os cardeais eleitores se reúnem na Basílica São Pedro, para uma missa especial pré-eleição. A cerimônia ocorre pela manhã, para que o conclave comece à tarde;
- Depois de chegarem em procissão à capela, os cardeais fazem um juramento em que prometem fidelidade às regras do conclave e a manter segredo sobre "tudo aquilo que, de algum modo, disser respeito à eleição".
- A eleição é por votação secreta em urna, local onde é depositado as cédulas de papel em formato retangular onde cada cardeal escreve o seu voto e dobra ao meio duas vezes; sai vencedor aquele que obtiver dois terços dos votos, calculados com base total de eleitores presentes.
- A urna é chacoalhada, e um dos cardeais confere o número de cédulas. Em seguida, três escrutinadores leem os votos, sendo o último em voz alta. Cada cédula é furada, e um fio liga todas as folhas.
- As cédulas são queimadas. Se na primeira votação não sair vencedor, uma fumaça preta sai da chaminé da Capela Sistina; o conclave continua, com dois escrutínios pela manhã e mais dois à tarde.
- Se o vencedor não sair após três dias, os trabalhos são suspensos por um dia, para "uma pausa de oração", e conversas entre os cardeais. A votação é retomada; se houver outras sete apurações sem resultado, nova pausa pode ser feita. São permitidas depois mais sete votações, outra pausa, e as últimas sete tentativas.
- Se mesmo assim não sair o vencedor, os dois nomes que, na última votação, tiver obtido o maior número de votos deixam de ser eleitores para serem os únicos candidatos possíveis. No entanto, o vencedor ainda precisa receber pelo menos dois terços dos votos.
- Escolhido o nome, o cardeal decano pergunta ao eleito se ele aceita ser papa e como quer ser chamado. O anúncio é feito aos fiéis na praça São Pedro, com a fumaça agora na cor branca, e o novo Papa dá a bênção "Urbi et Orbi" do pórtico da Basílica.