Núcleo do bairro Santa
Catarina agrega projeto que ensina música e a boa convivência.
Por FABRICIO
FURTADO da FCL,
em Lages/SC
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📷 Fabricio Furtado / ASCOM PML |
Você consegue imaginar a relação entre uma baqueta de surdo e uma aula de
instrumentos de sopro como trompetes e saxofones? Assim começam as aulas do
Projeto Orquestra Sinfônica no núcleo do Lages Melhor no Centro de Atenção
Integral à Criança (Caic) Nossa Senhora dos Prazeres, situado no bairro Santa
Catarina.
Regidos pelo instrutor
André Wilson Silva Medeiros, 12 jovens músicos têm como tema de abertura do ensaio
não somente exercícios de andamento ou repetições de frases musicais. A
proposta do maestro André é que quem tem a baqueta na mão deve falar. A
pergunta lançada pelo instrutor é como cada um pode melhorar a sua própria
contribuição para que o desempenho do Projeto tenha ainda mais êxitos.
Quem começa a contar a
sua ideia de participação na Orquestra é Jamile Campos, 14 anos, uma das
primeiras participantes do Projeto. Ela toca o sax soprano, mas neste instante
a baqueta é o que a habilita para se manifestar. Jamile acredita que a
dedicação nos estudos em casa pode ser o caminho para que o desempenho dela
possa também contagiar os colegas da Orquestra. Da mesma idade de Jamile, Luiz
Felipe e João Paulo, que tocam trombone de pisto e saxofone tenor, dizem que o
comportamento nos ensaios pode ser melhorado. “Mais do que já é”, comenta um
deles. “Isso faz parte dos ensaios, a conversa com propostas e a participação
de cada um dos músicos para sempre avançarmos como projeto e colegas de
Orquestra. A gente ri algumas vezes, mas todos sabemos qual a melhor hora pra
tudo, e todos nós conhecemos a importância de cada um nesse caminho,” acredita
o maestro André.
Quase ao centro da
formação para o ensaio está a acadêmica de engenharia de produção Maria
Eduarda, 18 anos. Maria começou sua vida na música participando do Projeto na
Escola de Educação Básica (E.E.B.) Lúcia Fernandes Lopes. “Não queria ir pra
lira na banda da escola, aí a flauta doce apareceu e logo o professor André me
apresentou o sax tenor. Terminei o ensino médio, fui pra universidade, arrumei
emprego e nunca deixar a Orquestra me passou pela cabeça,” conta sem esquecer
da mãe que foi a grande incentivadora.
Maria Eduarda também lembra que nunca percebeu a dimensão do que a música tem de importante em sua vida. “Eu sei que meu desenvolvimento aqui permitiu muitas coisas boas na vida, entre elas a faculdade. Parte disso tudo eu captei com os ensinamentos do André.”
Para o maestro, pequenos
exemplos têm muitos significados. Muitas histórias de pequenos músicos que
passaram pela Orquestra Sinfônica são registradas em um mural na sala de
ensaios. Entre as fotos está a do baterista Felipe Silva que atualmente está na
banda do Exército. “Foi minha indicação para ele fazer parte da banda do
Batalhão. Assim como o Felipe, a gente convive com os músicos e assiste a eles
crescerem. A gente fala sobre empatia na Orquestra, e nesse entendimento o
grupo cresce junto”, acredita.
André também explica a força da mulher no grupo. “Temos hoje nove meninas na Orquestra, é um dado muito importante, pois isso se estende socialmente na comunidade onde elas vivem. É um tipo de ocupação que traz melhorias em tudo na vida deles, a convivência com família e vizinhos, nos estudos e na vida profissional”, revela, orgulhoso, o maestro.
A baqueta de surdo volta
para a mesa ao lado dos instrumentos de percussão. Todo mundo deixa de falar,
prepara os instrumentos de sopro, abre partituras e a primeira execução é um
trecho de “Primavera”, do italiano Vivaldi. Três repetições e a turma faz o
fechamento com “Stand by Me”
de Bem E. King, mas conhecida na versão dos Beatles.
E a letra da canção vem
bem a calhar com o que as pessoas podem ver e ouvir ao acompanhar a Orquestra
Sinfônica e seus músicos: “Se o céu que vemos lá em cima, desabar e cair, ou as
montanhas desmoronarem no mar, eu não chorarei, eu não chorarei, não, eu não
derramarei uma lágrima, desde que você fique, fique comigo.”
A Orquestra Soprano faz
parte do Projeto Lages Melhor, que é uma execução da prefeitura de Lages
através da Fundação Cultural e gerenciada pela Escola de Artes Elionir Camargo
Martins. Conta com o apoio da Secretaria municipal de Educação, Instituto José
Paschoal Baggio (IJPB) e Orion Parque
Tecnológico.