Editorial: 35ª Festa Nacional do Pinhão — um retorno às raízes e ao coração do lageano

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A Festa do Pinhão é patrimônio cultural de Lages e deve continuar sendo construída com o lageano como protagonista. Em 2025, isso foi possível. 

22/06/2025 — 22:23

Fotos: Marlon Sá Molim / MSM Imagens Aéreas e Maurício Santos / Lages Diário


Ao longo de 17 dias, Lages reviveu com intensidade suas origens culturais na 35ª edição da Festa Nacional do Pinhão. Com o mote "Raízes", o evento — pela primeira vez, desde seu retorno em 1989, foi realizado fora do Parque Conta Dinheiro —  uma ousadia administrativa que merece reflexão cuidadosa. O centro da cidade, mais precisamente o calçadão da Praça João Costa, onde tudo começou com Aracy Paim, voltou a ser o coração pulsante da festa. E, com isso, o sentimento geral é de que a Festa voltou a ser, de fato, do povo lageano.

Há anos se fazia presente um sentimento recorrente entre os moradores: o de que a festa havia se distanciado de seu público original, tornando-se inacessível, elitizada e moldada para turistas — o que não é ruim, eles serão sempre bem-vindos, mas parte de uma festa cultural é ter sua gente também representada. Os altos preços de ingressos e de alimentos nos boxes instalados no parque sempre foram alvos de críticas. Em 2025, no entanto, após uma licitação frustrada com cinco empresas inabilitadas, optou-se por não cancelar a festa — como aconteceu, por outros motivos, em Ituporanga com a tradicional Festa da Cebola — mas sim reinventá-la. Uma decisão corajosa, e, em muitos aspectos, acertada.

A escolha do Estádio Vidal Ramos Júnior como sede dos shows nacionais, embora inicialmente recebida com desconfiança, revelou-se acertada. O acesso gratuito aos shows foi um divisor de águas e simbolizou uma quebra com o modelo anterior. Ainda que o line-up não tenha reunido os principais nomes do país, a seleção foi coerente e de qualidade. Nomes como Guilherme & Benuto, Fernando & Sorocaba, Yasmin Santos, Ondastral, Dazaranha e Corpo & Alma atraíram público razoável, mesmo com o clima chuvoso na maioria dos dias. A exceção foi a noite de Yasmin Santos, que registrou público superior a 22 mil pessoas, segundo dados divulgados pela Prefeitura de Lages, o maior desta edição. 


Já no Recanto do Pinhão Aracy Paim, a verdadeira alma da festa se fez presente. Os palcos foram ocupados por nomes de peso da música gaúcha, como Os Fagundes, Os Filhos do Rio Grande, Cristiano Quevedo, Elton Saldanha, César Oliveira & Rogério Melo, entre outros, e os talentos locais como Ricardo Bergha e o Quarteto Coração de Potro. As Sapecadas da Canção Nativa e da Serra Catarinense encontraram, talvez, seu lugar definitivo na Praça João Costa — mais próxima das pessoas, mais integrada à cidade, e que consagraram as composições "Poncho Miliquero" e "Coxilha Pobre", respectivamente como grandes campeãs. 

Outro destaque foi a transformação de parte da Rua Nereu Ramos em uma via gastronômica coberta, com boxes de entidades beneficentes tradicionais oferecendo pratos típicos e bebidas quentes. O sucesso da iniciativa, inclusive, pode abrir espaço para discussão de uma ampliação no futuro, com a possível inclusão de boxes de comerciantes locais e projetos como o “Sabores de Lages”, por exemplo.


É claro que toda mudança traz acertos e desafios. Ainda é cedo para carimbar a edição como um sucesso absoluto ou um fracasso. O olhar técnico e desapaixonado é o que deve prevalecer. Nem os elogios exacerbados de apoiadores da gestão atual, nem as críticas destrutivas de opositores contribuem de forma significativa ao debate. O que se precisa é de maturidade institucional para avaliar o que funcionou e o que precisa ser aprimorado.


A Festa do Pinhão é patrimônio cultural de Lages e deve continuar sendo construída com o lageano como protagonista. Em 2025, isso foi possível. A acessibilidade, a diversidade cultural, os preços justos e a segurança eficiente demonstraram que uma festa popular pode, sim, manter a qualidade e a tradição.


A reunião da Comissão Central Organizadora (CCO) será determinante para moldar os próximos passos. Voltar ao Parque Conta Dinheiro ou manter o novo formato? A decisão não deve partir de um saudosismo ou de uma oposição à inovação, mas sim da análise criteriosa de dados de setores importantes como o comércio, serviços, hotelaria e restaurantes, por exemplo, além das experiências e, principalmente, do desejo coletivo de quem vive a cidade e a festa.


O mais importante, neste momento, é reconhecer: Lages soube se reinventar, e a Festa do Pinhão, em 2025, voltou a pulsar no compasso da cidade e de sua gente.

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