Atlas da Violência: assassinatos de negros crescem 11,5% em 10 anos
Estudo foi feito com base no Sistema de
Informação sobre Mortalidade.
Por LETYCIA BOND da AGÊNCIA BRASIL,
São Paulo/SP
![]() |
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil |
No Brasil, os casos de
homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma década,
de acordo com o Atlas da Violência 2020, divulgado hoje (27), em São Paulo,
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP). Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018, período avaliado,
a taxa entre não negros (brancos, amarelos e indígenas) fez o caminho inverso,
apresentando queda de 12,9%.
Feito com base no Sistema
de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, o relatório evidencia
ainda que, para cada pessoa não negra assassinada em 2018, 2,7 negros foram
mortos, estes últimos representando 75,7% das vítimas. Enquanto a taxa de
homicídio a cada 100 mil habitantes foi de 13,9 casos entre não negros, a
atingida entre negros chegou a 37,8.
Na avaliação dos
especialistas que produziram o documento, os números deixam transparecer o
racismo estrutural que ainda perdura no país. "Um elemento central para a
gente entender a violência letal no Brasil é a desigualdade racial. Se alguém
tem alguma dúvida sobre o racismo no país, é só olhar os números da violência
porque traduzem muito bem o racismo nosso de cada dia", diz a diretora
executiva do FBSP, Samira Bueno.
"Todas essas ações
[do poder público] que, de algum modo, atuam na prevenção à violência têm sido
capazes, apesar da magnitude do fenômeno [da violência], de prevenir a morte de
pessoas não negras, de proteger as vidas de não negros. Porém, quando a gente
olha especificamente para a taxa de homicídio da população negra, no mesmo
período, no mesmo país, cresceu 11,5%. É como se a gente estivesse falando de
países diferentes, territórios diferentes, tamanha a disparidade quando a gente
olha para o fenômeno da violência, segmentando entre negros e não negros",
complementa ela. "Isso nos ajuda a entender o quanto estamos completamente
dessensibilizados por isso."
Recorte de gênero
Outro número que
justifica a afirmação em torno do racismo diz respeito aos homicídios de
mulheres. Na década examinada, constatou-se uma redução de 11,7% na taxa de vítimas
não negras, ao mesmo tempo em que a relativa a negras subiu 12,4%.
No período, os estados
que tiveram as mais altas taxas de homicídios entre a população negra estão
localizados nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para Roraima (87,5
mortos para cada 100 mil habitantes), Rio Grande do Norte (71,6), Ceará (69,5),
Sergipe (59,4) e Amapá (58,3).
"Então, que
políticas são essas que a gente está implementando, que protegem as mulheres
não negras e não são capazes de proteger as negras?", questiona Samira.
No total, somente em
2018, 4.519 mulheres foram assassinadas em todo o país. Nesse quantitativo,
estão incluídas as ocorrências de feminicídio, embora não estejam
especificadas. O índice nacional foi de 4,3 homicídios para cada 100 mil
habitantes do sexo feminino, o que indica que uma mulher foi assassinada no
Brasil a cada duas horas. Em comparação ao ano anterior, o que se viu foi uma
redução de 9,3% entre 2017 e 2018 na taxa geral, acompanhada por queda em 19
das 27 unidades federativas.
Segundo a diretora,
particularidades referentes ao dado vêm sendo constatadas ao longo do tempo.
Como exemplo, ela cita o envolvimento de mulheres com membros de facções
criminosas e que acabam sendo executadas. Para ela, a situação consiste em
"uma nova gramática das facções", que precisa ser assimilada.
Morte entre jovens
O relatório também chama
a atenção para a preponderância de jovens entre as vítimas de homicídios
ocorridos em 2018. Ao todo, 30.873 jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos
foram mortos, quantidade que equivale a 53,3% dos registros.
No intervalo de 2008 a
2018, observou-se um aumento de 13,3% na taxa de jovens mortos, que passou de
53,3 homicídios a cada 100 mil jovens para 60,4. Os homicídios foram a
principal causa dos óbitos da juventude masculina, representando 55,6% das
mortes de jovens entre 15 e 19 anos; 52,3% entre o grupo com faixa etária de 20
a 24 anos; e 43,7% daqueles com idade entre 25 e 29 anos.
Quando se observam as
taxas de mulheres e homens, identifica-se uma diferença importante. No caso
delas, as proporções de homicídio são de 16,2% entre aquelas que têm entre 15 e
19 anos; 14% na parcela de 20 a 24 anos; e de 11,7% entre jovens com faixa
etária de 25 a 29 anos.
Em 2018, 16 unidades
federativas apresentaram taxas de mortalidade violenta juvenil acima da
nacional, que é de 60,4 por 100 mil. No topo da lista, aparecem Roraima
(142,5), Rio Grande do Norte (119,3) e Ceará (118,4). As menores taxas foram de
São Paulo (13,8), Santa Catarina (22,6) e Minas Gerais (32,6).
"É uma geração
inteira que a gente está matando e é algo que não nos sensibiliza,
infelizmente, que vai passando. [As vítimas] são sujeitos [considerados]
descartáveis", afirma Samira.
Políticas públicas
Sobre a morte prematura
de jovens brasileiros, o pesquisador Daniel Cerqueira, que também assina a
publicação, ressalta que a efetividade do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) depende de como são conduzidas as políticas públicas. Os dados
apresentados mostram que o conjunto de normas fez com que a taxa de homicídios
entre crianças e adolescentes caísse para 3,1%, a cada ano, entre 1991 e 2018,
revertendo o crescimento anual de 7,8%, registrado entre 1980 e 1991.
"De 1980 a 2018,
foram 265 mil crianças assassinadas no Brasil. É uma barbárie, é muito chocante,
é um número que nos leva a repensar o país. Tem algo errado aí. Duas coisas que
ajudaram a frear essa barbárie foram o ECA e o Estatuto do Desarmamento. Antes
do ECA, quando a gente vai olhar violência armada, a taxa de homicídio anual
crescia a incríveis 9,4% a cada ano. Depois do ECA e antes do Estatuto do
Desarmamento, de 1991 a 2003, o ritmo de crescimento dos homicídios de crianças
diminuiu para 4,9% e, depois do Estatuto do Desarmamento, o ritmo foi de 1,7%.
Ou seja, quando a gente compara antes e depois dos estatutos, a morte por
violência armada de nossas crianças caiu a um quinto e, no entanto, nós estamos
desconstruindo parte dessa peça agora, com o desmantelamento do Estatuto do
Desarmamento e com um debate que começou a surgir na sociedade, com
preconceitos contra o ECA", explica Cerqueira, acrescentando que, desde
2009, foram promovidas mudanças na legislação brasileira que permitiram uma
circulação maior de porte de armas de fogo e dificultaram o rastreamento de
munições e armas, muitas delas usadas por grupos criminosos, incluindo
milícias.
O FBSP e o Ipea destacam,
ainda, que, antes de 2003, quando o Estatuto do Desarmamento passou a vigorar,
a velocidade de crescimento das mortes era cerca de 6,5 vezes maior do que a
observada depois da sanção presidencial. Caso o número de homicídios se
multiplicasse da mesma forma como acontecia antes do Estatuto do Desarmamento,
o total poderia ultrapassar 80 mil, em 2018.
Naquele ano, a quantidade
já foi elevada: foram notificados 41.179 assassinatos por arma de fogo no país,
que correspondem a 71,1% de todos os homicídios do país.
Postagens mais visitadas deste blog
Enquete: participe e vote em quem você acha que será a rainha da Festa do Pinhão 2019
Das 32 inscritas, 16 passaram por uma seletiva realizada nesta quarta-feira (20) e irão para a grande final do concurso na próxima quarta-feira, dia 27, no Teatro Marajoara. Por LD , em Lages/SC 📷 Candidatas a Rainha e Princesas da Festa Nacional do Pinhão 2019. (Foto: Nilton Wolff / Divulgação) Na tarde desta quarta-feira (20) faltando uma semana para a realização do concurso de escolha da rainha e princesas da 31ª Festa Nacional do Pinhão, ocorreu no Teatro Marajoara, a triagem seletiva para definir as 16 finalistas das 32 candidatas que se inscreveram para o concurso. As 16 escolhidas voltam na noite da próxima quarta-feira para definir a nova realeza de um dos maiores eventos culturais do Sul do Brasil. ::: Siga o LD no Instagram Foi uma tarde de muita ansiedade, aprendizado e apreensão para as 32 candidatas, afinal, é a realização de um sonho se tornar rainha ou princesa de um evento do porte da Festa do Pinhão, e infelizmente, para 16 delas, o sonho ter
Empresário Lucas De Zorzi morre em acidente no Cânion Espraiado em Urubici
Ele e um colega estavam escalando um paredão, quando uma pedra de grande porte deslizou e atingiu a cabeça de Lucas que não resistiu e veio a óbito no local. Da AGÊNCIA LD , Lages/SC Além de empresário, Lucas De Zorzi também amava esportes de aventura, escalada era uma delas. (Foto; Reprodução / Instagram) O empresário e alpinista, Lucas De Zorzi, morreu neste domingo (11), após sofrer um acidente enquanto escalava um paredão no Cânion Espraiado, no interior de Urubici , na Serra Catarinense. Ele estava escalando um paredão juntamente com um colega, quando uma pedra de grande porte se desprendeu e o atingiu na região da cabeça, vindo a óbito no local. O helicóptero Águia 04 da 5ª Base de Aviação da Polícia Militar foi acionada para realizar o resgate dele e do colega. ::: Águia 04 da PM auxilia no resgate de adolescente após queda de cavalo Segundo a assessoria da 5ª Base de Aviação da PM, o Águia 04 se deslocou até o local, onde os tripulantes constataram a natureza da ocorrênci
Acidente entre carro e trator deixa três pessoas feridas em Palmeira
Quando o resgate chegou, o trator não se encontrava mais no local. Por LD , Lages/SC 📷 Corpo de Bombeiros / Divulgação Três pessoas ficaram feridas após uma colisão envolvendo um carro e um trator na SC-114, em Palmeira, na Serra Catarinense, na noite deste domingo (26). Segundo o Corpo de Bombeiros, as guarnições de Otacílio Costa, município vizinho à Palmeira, foram acionadas por volta das 18h35 na rodovia na altura do km-109 para atender a ocorrência de acidente de trânsito. Chegando ao local se depararam com o referido veículo um Fiat Bravo e com o condutor do referido veículo de iniciais F.R.O. de 40 anos, caminhando já do lado de fora do veículo. Uma mulher que estava no banco do carona foi conduzida pelo Samu de Otacílio Costa. Já uma outra ocupante, de iniciais L.A.S. de 31 anos, foi conduzida pelos Bombeiros até o HNSP, em Lages, com suspeita de traumatismo craniano encefálico, suspeitas de fratura no fêmur e nas costelas do l
Comentários
Postar um comentário