Dia do Pedagogo: profissionais enfrentam desafios durante isolamento
Mercado de trabalho é
amplo, mas salários ainda são baixos.
Por LUDMILLA SOUZA da AGÊNCIA BRASIL,
São Paulo/SP
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📷 MCTIC / Divulgação |
No Dia do Pedagogo,
comemorado hoje (20) no Brasil, os profissionais buscam se adaptar às
novas necessidades da educação, como o ensino a distância, provocado pelo
isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus.
Muito esforço tem sido
feito, tanto por professores quanto por instituições de ensino, para dar
continuidade aos estudos, sem prejudicar o avanço dos alunos. Esse tem sido um
desafio para os educadores, já que ninguém estava preparado para essa nova
situação - de levar a metodologia educacional para o mundo online.
“Rapidamente tivemos que
buscar ferramentas que nos permitissem manter o contato com o aluno, criar
salas de aula virtuais, repensar processos de avaliação, propor atividades que
os alunos pudessem realizar em casa, manter uma rotina. As escolas e
instituições de ensino superior têm enfrentado este momento de formas
diferentes, específicas, mas há pontos em comum”, afirma a coordenadora do
curso de Pedagogia da Universidade Santo Amaro (Unisa), professora Tatiana da
Silva Calsavara.
Doutora em educação,
Tatiana conta que participa deste cenário sob diferentes pontos de vista -
“como coordenadora, docente e como mãe. Tenho refletido muito sobre isso, o que
funciona, o que não funciona tão bem, o que pode ser mudado. Um problema com
que, de início, nos deparamos é a má qualidade da internet brasileira e,
inclusive, a falta de acesso por grande parte dos alunos e até professores”,
diz.
Ela lembra outro ponto
desta inovação forçada. “Além disso, são buscadas formas que não podem ser
iguais às do ensino presencial, mas que precisam manter a qualidade, a
proximidade, a interatividade. É preciso repensar a educação e isso é muito
bom, pois a história mostra que em momentos de desafios como esse, construímos
novos caminhos, novas propostas. Daqui a algum tempo, poderemos, de forma mais
específica, analisar os ganhos e como crescemos com eles”, analisa.
Disciplina e planejamento
Para Tatiana, o momento
exige disciplina e planejamento. “Algo que destaco, nesse meu olhar triplo de
coordenadora, docente e mãe, é a necessidade de rotina, de planejamento, de
interatividade, de interdisciplinaridade, de leitura, e destaco a importância da
literatura, seja qual for a área de formação”. Tatiana afirma que a literatura
ajuda a compreender o ser humano. “Essa valorização da arte, da cultura, da
literatura, do cinema neste momento, que é onde as pessoas buscam refúgio, é um
grande desafio para os pedagogos, pois nos coloca na posição de repensar o
papel desses elementos, que são também ferramentas pedagógicas, tão essenciais
à humanidade e à necessidade de nos mantermos sãos em tempos de medo e
incertezas”.
Mercado de trabalho
O pedagogo tem como
principal atuação a docência e a gestão da escola, incluindo orientação e
supervisão. Na legislação atual, o pedagogo é formado para atuar na educação
básica, na docência das séries iniciais do ensino fundamental e educação
infantil e também na gestão de instituições de ensino, abrangendo o ensino
superior. Ele pode atuar em instituições públicas ou privadas.
“Hoje em dia, muitos
pedagogos também são contratados para atuar em empresas (pedagogia empresarial)
ou hospitais (pedagogia hospitalar). Esses últimos estão naquilo que chamamos
de espaços não escolares, que estão previstos na legislação vigente. O pedagogo
deve ser preparado para atuar nessas áreas, que incluem ainda organizações não
governamentais, fundações, comunidades, editoras (consultoria), entre outros
espaços”, lembra a coordenadora.
O mercado de trabalho é
amplo, porém os salários variam muito. A faixa salarial do pedagogo fica entre
R$ 1.996,00 e R$ 6.233,11, sendo que R$ 2.293,22 é a média do piso salarial
2020. “Como é uma profissão que exige formação constante e uma visão de mundo
que inclui acesso à cultura, arte, livros, pesquisas, novas tecnologias, a
faixa salarial é baixa, já que o docente acaba investindo parte considerável de
seu salário para se qualificar e manter seu currículo competitivo no mercado de
trabalho. Os melhores salários na área são destinados aos que apresentam
melhores qualificações”, observou Tatiana.
Desafios atuais
A formação continuada,
porém, com a falta de cursos gratuitos, é um dos desafios da profissão. “O
pedagogo deve estar disposto a aprender sempre, a buscar novas ferramentas para
o ensino, novas perspectivas. Ele deve ter uma formação que lhe
permita ler o cenário atual e atuar nele de forma a contribuir com o processo
educacional, com os desafios do tempo presente. Ensino e pesquisa caminham
juntos e, mais do que nunca, vemos a necessidade do embasamento em evidências,
em dados, em análises consistentes”, afirma Tatiana.
A psicopedagoga e
professora Leila do Vale Nascimento de Melo concorda com Tatiana quanto à
importância da formação continuada e lamenta a falta de recursos. “Os desafios
da profissão são a falta de materiais adequados à faixa etária das crianças, a
ausência dos pais, a falta de cursos gratuitos de qualificação, entre outras
dificuldades do dia a dia escolar”.
Para Leila, que trabalha
atualmente como professora de educação infantil no Centro Bryan Biguinati
Jardim, o ensino a distância também tem se mostrado difícil. “A adaptação ao
ensino a distância tem sido um desafio a ser vencido todos os dias, pois sempre
surgem dificuldades estruturais no caminho. Ainda mais que não tivemos
orientações prévias, com um tempo hábil para aprender de fato. Fora isso, temos
de pensar em atividades que atendam às crianças com necessidades especiais e não
temos um suporte nesse sentido".
Na opinião de Tatiana
Calsavara , a educação é um processo que, para muitos, parece lento, “mas é o
melhor meio para construir um futuro de qualidade. "Mais do que nunca, se
percebe a importância da educação para a sociedade, a importância do professor
como detentor de um saber específico. Repensar as tecnologias, o papel do
professor, a interatividade de qualidade com o aluno, a importância da leitura,
de uma formação crítica e de como colocar isso além do espaço físico da sala de
aula é o grande desafio deste momento”.
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